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A SEGUNDA EVA E A CERTEZA DA VERDADEIRA HUMANIDADE DE CRISTO Parte II

• A SEGUNDA EVA E A CERTEZA DA VERDADEIRA HUMANIDADE DE CRISTO • Parte II

• Na verdade, no início do cristianismo parecia ser habitual interpretar os três primeiros Capítulos do Gênesis como uma antecipação da vinda de Cristo. Portanto, os primeiros cristãos podem ter criado o episódio da Tentação de Cristo pelo demônio como uma espécie de simulacro do episódio da Tentação de Adão e Eva. O tentador disse a Eva; “no dia em que comer desse fruto […] sereis como Deus” (Gênesis 3,5). E o tentador disse a Cristo que, “depois de jejuar por 40 dias e 40 noites, teve fome”. “Se tu és o filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães” (Mateus 4. 2-3). Na epístola aos romanos, o apóstolo Paulo e seu seguinte paralelo: “pelo que, como por um homem [Adão] entrou o pecado no mundo, assim também a morte passou a todos os homens porque pecaram […] Muito mais pela graça de Deus, e o dom pela graça. Que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou para muitos (Romanos 5.12,15). Em 1Coríntios, o apóstolo desenvolveu esse paralelo contrastante com maiores detalhes: “assim também está escrito: o primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente; o último Adão, espírito vivificante […] O primeiro homem, sendo da Terra, é terreno, o segundo o homem, o senhor, é dos céus” (1Coríntios 15.47). Mas, com a história examinada sob a perspectiva terrena, registrando as ações autenticamente humanas pelas quais os homens seriam responsabilizados, esse contraste entre o primeiro Adão, “como da terra, terreno”, e o segundo Adão, Cristo, como “o senhor do céu” que se tornou tão importante na história das ideias, também levantou sérios problemas, alguns dos quais veremos mais adiante. • A comparação de Eva com Maria permitiu uma visão profunda e uma importante correção para muitos desses problemas. Assim, Irineu, Bispo de Lyon que provavelmente nasceu na Ásia menor por volta de 130 D.C. e morreu mais ou menos em 200 D.C., formulou um notável paralelo em dois escritos de sua autoria que chegaram até nós: em uma passagem do seu tratado contra as heresias (escrito em grego, mas em grande parte preservado em uma versão Latina) e em uma outra obra por muito tempo considerada perdida, mas que foi encontrada no século XX, também traduzida, mas desta vez para o armênio — Epideixis, Isto é, prova da pregação Apostólica. Comparando vários elementos do Gênesis com os Evangelhos, como o Jardim do Éden com o Jardim do Getsêmani e a árvore do conhecimento do bem e do mal com a árvore da cruz, Irineu chegou ao mais inovador e empolgante dos paralelos: • Foi precisamente por meio de uma virgem transgressora [Eva] que a humanidade foi ferida e tombou, mas foi por outra Virgem [Maria] que, por ter obedecido à palavra de Deus, a humanidade ressuscitada recebeu a vida. Porque o senhor [Cristo] veio para recuperar suas ovelhas perdidas, e estas eram a humanidade que estava perdida; e Ele não assumiu outro aspecto, mas a exemplo dela [Isto é, Maria] também era descendente de Adão e preferiu preservar a semelhança de seu aspecto, porque Adão precisava necessariamente ser restaurado em Cristo para que a mortalidade fosse ab sua vida pela imortalidade. E Eva foi [restaurada] em Maria porque uma virgem, tornando-se advogada de outra virgem, deveria resgatar original transgressão por meio da virginal Obediência (Ireneu, prior of The apostolic preaching, página 33). • Aqui não havia apenas uma comparação entre o primeiro Adão “da terra, terreno” e o segundo Adão, Cristo, “o senhor do céu” — o terreno e o divino — mas uma comparação entre a calamitosa desobediência de quem era apenas humana, Eva, e a obediência Salvadora de outra mulher que também era simplesmente humana, que não era “do céu” e sim “da terra”, Maria como a segunda Eva. Era absolutamente essencial para a integridade das duas narrativas que tanto a transgressão de Eva como a obediência de Maria fossem vistas como atos de livre-arbítrio e não como coação, por parte do demônio, no caso de Eva, ou por parte de Deus no caso de Maria. • Quando se afirmou que, em uma passagem como essa e para o desenvolvimento da doutrina de Maria, escritores cristãos, como Irineu, foram testemunhas importantes da tradição no século ou até mesmo antes disso, levantou-se uma interessante questão: estaria Irineu inventando o conceito de Maria como a segunda Eva ou seria ele o depositário de uma tradição nascida anteriormente? lendo seu livro (contra as heresias) e principalmente (a prova da pregação apostólica), fica difícil evitar a impressão de que ela citara o paralelismo entre Eva e Maria de modo tão natural, sem sentir necessidade de discutir ou defender seu ponto de vista, Por que ele tomará por certo que seus leitores aceitariam sem questionar, ou mesmo por já conhecê-lo. A razão para assim se comportar diante desse assunto e de vários outros temas é que Irineu se considerava O Guardião e o propagador da crença que chegara a ele através de gerações anteriores, dos próprios apóstolos. Um leitor moderno não precisa considerar ou mesmo admitir a possibilidade de que, fazendo esse julgamento de si mesmo, Irineu talvez estivesse certo e que, portanto, na segunda metade do século II, era natural encarar juntas Eva, a “mãe de todos os seres viventes” (Génesis 3.20), e Maria, mãe de Cristo, compreendendo e interpretando as duas mulheres mais importantes da história da humanidade com base uma na outra. • Depois de introduzida no vocabulário, essa dialética de Eva e Maria adquiriu vida própria. Como em latim o nome Eva escrito ao contrário se transforma em ave, saudação do anjo a Maria na vulgata repetida por milhares de almas na oração da ave Maria, parecia haver um significado Místico nesse nome. Analisadas de modo menos jocoso e mais profundo, as considerações sobre a transgressão de Eva e a obediência de Maria produziram extensas comparações psicológicas entre as duas mulheres. Nessas comparações, a interpretação negativa da Mulher personificada em Eva — vulnerável, irracional, emocional, erótica, vivendo pela experiência dos sentidos e não pela mente e pela razão, por isso presa fácil para o astuto tentador — propagou os tão familiares estereótipos de difamação misógina que se arraigaram profundamente no pensamento e na linguagem de tantas Nações, não apenas as ocidentais. Muitos autores modernos e polêmicos examinaram cuidadosamente as obras dos pensadores patrísticos medievais à procura desses esteriótipos que conseguiram reunir um enorme catálogo, e agora é passado de um livro para o outro, de um artigo para outro. Não pretendendo defender os estereótipos, mas por uma questão de correção histórica necessária, salientando que as obras dos pensadores patrísticos medievais apresentam uma compreensão para esses estereótipos em suas mais extensas interpretações da mulher personificada por Maria, a “Mulher de coragem” [mulier fortis] que, como descendente e vingadora da primeira Eva, esmagou a cabeça da serpente e venceu demônio (mulher de coragem, quem a achará provérbios 31. 10). A justiça histórica exige que ambos os polos dessa dialética sejam incluídos. No paraíso perdido de John Milton, um autor totalmente anticatólico e contra à veneração de Maria (Jonh Milton, paraíso perdido, página 385-7), a despeito de suas convicções religiosas, descreveu como ao saudar Maria, • […] o Anjo lhe deu a saudação Sagrada com que se apresentou, passadas eras, a ditosa Maria, Eva Segunda […] • citando a saudação Angélica “Ave Maria” e com ela evocando o antigo paralelo que é o tema deste texto. Porém ele o fez como puritano e protestante, em um contexto literário e teológico no qual o equilíbrio do retrato católico de Maria já havia se perdido. Não obstante, Milton fez Adão, falando após a queda, dirigir uma ave maria a Virgem em uma linguagem que deixou bem clara para Eva, e também para Maria, sua posição no esquema da história da humanidade: • Ave, Mas Virgem, puro amor do Eterno • Terás origens nas entranhas minhas • Desta maneira • Este lento e doloroso diagnóstico post-mortem da psicologia da queda de Eva é um estudo que merecidamente celebra seu imperfeito mais brilhante caráter. Mas quando essa autópsia da tentação é analisada no contexto da história do pensamento patrístico e medieval sobre a primeira e a segunda Eva, que conduziu a Milton, fica bastante claro que o paraíso perdido enfatizou muito mais um lado da dialética que o outro. E o mesmo se aplica a muitos escritores menos importantes posteriores a Milton.

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