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A SIMBOLOGIA DA REVOLUÇÃO E DA MAÇONARIA

Como estamos verificando nos textos anteriores, uma imensa série de nomes e imagens foi tirada da antiguidade clássica para legitimar a nova fé revolucionária. Dois nomes relativamente negligenciados tiveram importância central para o desenvolvimento de uma identidade ideal em meio aos intelectuais revolucionários: a imagem do revolucionário como um Pitágoras moderno e de seu ideal social como uma Filadélfia. Esses dois tópicos ilustravam o alcance proto-romântico de um distante ideal grego como uma alternativa majestosa às imagens romanas de poder e conquista que haviam dominado a França à medida que esta, assim como a Roma antiga, passava da república para o império sob o governo de Napoleão. Pitágoras e Filadélfia representavam uma destilação dos altos ideais fraternos comuns tanto às irmandades ocultistas da maçonaria e do iluminismo quanto à mobilização idealista de jovens para defender a revolução de 1792-1794. Houve uma recessão das esperanças revolucionárias ao fim do século XVIII e começo do XIX. Pitágoras, o semi-lendário filósofo grego, que fundou (uma espécie de seita político-religiosa com ritos secretos) em Crotona, na Itália meridional. Pitágoras (que provavelmente nada escreveu) e o antigo pitagorismo estão envolvidos pela lenda e é impossível distinguir a doutrina pessoal do mestre da dos seu discípulos. Certamente nem todo o conteúdo doutrinário do pitagorismo é antigo quanto Pitágoras (representado pela lenda como profeta e Taumaturgo) mas, por outro lado, é exagerado atribuir à antiga escola apenas um caráter místico e ritual. Com toda probabilidade duas doutrinas fundamentais (da “transmigração das almas” e dos “Números”) são antigas quanto a Escola. Pitágoras serviu de modelo para o intelectual-transformado-em-revolucionário. Tornou-se uma espécie de o padroeiro dos revolucionários românticos, que precisavam de novos santo símbolos de santidade secular. De acordo com a tradição, no século VI a.C. o grande geômetra da antiguidade deixou a cidade de Samos, na Grécia, e foi para Crotona, no sul da Itália, onde supostamente fundou uma irmandade religiosa-filosófica para transformar a sociedade. Reformadores intelectuais radicais, ao longo de toda a antiguidade, reviveram e embelezaram essa tradição. Neopitagóricos surgiram na Alexandria no século II a.C.; e um grupo posterior de pitagóricos produziu Apolônio de Tiana no século II, um sábio taumaturgo que foi, na sua época, um grande rival de Cristo. Embora grupos organizados tenham desaparecido, as ideias pitagóricas vieram a reaparecer na cristandade medieval, que por certo tempo representou Pitágoras como um elo judeu oculto entre Moisés e Platão. Houve uma corrente de fascínio pelo pensamento pitagórico no Renascimento e no Iluminismo que ganhou um espírito de ira durante a Revolução Francesa. O projeto final de Weishaupt de um iluminismo politizado, escrito durante o primeiro ano da Revolução, era intitulado Pitágoras; e, à medida que os extremistas procuravam princípios simples, porém sólidos, com base nos quais reconstruir a sociedade, cada vez mais passaram a buscar orientação nas crenças pitagóricas em números primos e formas geométricas. Antes, revolucionários românticos buscaram atalhos ocultistas para as verdades íntimas da natureza, e assim diversas vezes deram importância aos principais números primos do misticismo pitagórico: um, três, sete, e sobretudo cinco. Panfletários de direita sugeriram que os números primos propiciavam um código organizacional secreto para os revolucionários; uma elaboração particularmente engenhosa de 1797 derivava do número dezessete toda a estrutura da história revolucionária. Por mais esquisita que possa a revolucionários e historiadres posteriores, essa paixão pitagórica influenciou seriamente as atividades a organizacionais dos primeiros revolucionários. Estamos vendo como os iluminados fizeram os primeiros e hesitantes esforços de usar da maçonaria ocultista em conspirações ulteriores – abrindo caminho para Bonneville, Buonarroti e os primeiros revolucionários profissionais. Ocultistas se tornaram políticos e fizeram especial emprego de dois dos mais importantes símbolos geométricos pitagóricos o círculo e o triângulo ao dramatizarem seu desafio ao poder estabelecido. Essas duas formas se tornaram símbolos que representava o divino no cristianismo medieval. Passaram a progressivamente dominar os hieróglifos das ordens maçônicas mais altas e também a imaginação de arquitetos utópicos pré-revolucionários que, com frequência, buscavam fazer edificações só com base em “figuras geométricas do triângulo ao círculo”. Como muitos dos primeiros líderes da revolução viam a si mesmos como maçons-arquitetos, sentiram alguma afinidade com a campanha então em andamento de combate ao estilo rococó aristocrático com o “poder da geometria”. Assegurados pela lei da gravidade de Newton quanto à harmonia circular do universo, sentiram que o domínio das leis matemáticas tornava o homem “possuidor do segredo do universo solar” destinado a organizar a sociedade humana racionalmente. Ao mesmo tempo, a filosofia proto – romântica do ocultismo alemão levou muitos a verem o homem não como uma engrenagem, mas como um dinâmico “ponto vivo destinado a se tornar um círculo. Mas, antes que as fronteiras pudessem se expandir, monumentos precisavam ser construídos em seu centro. A forma piramidal se tornou popular após o retorno de Napoleão do Egito, embora tenha sido logo ultrapassada em locais públicos por obeliscos. Mesmo antes da revolução, arquitetos utópicos se sentiram atraídos pela “sublime magnificência da esfera”. Essa forma pura reapareceu no esboço de um Memorial de Newton (uma esfera tendo dentro de si apenas um pequeno túmulo iluminado por um único raio de sol) e de um proposto Templo da Igualdade (uma imensa esfera erguida sobre colunas, contendo uma esfera menor em seu interior). O círculo Os pitagóricos tinham sido a primeira escola da antiguidade clássica a sustentar sistematicamente que a Terra e o universo eram esféricos em sua forma e finitos em sua extensão. Os números e a música expressavam as harmonias ocultas de uma derradeira e esférica perfeição natural. A realidade central da vida humana era a transmigração de almas humanas de um corpo para o outro – tudo a se mover em ciclos como o próprio universo. Pitagóricos do século XVIII ficaram especialmente entusiasmados com a ideia dos Iluminados de uma progressiva purificação humana desde círculos mais baixos da natureza animal até as esferas de pura inteligência. A hierarquia de círculos dos Iluminados – Movendo-se desde a “Igreja” para o “sínodo” e, por fim, para o centro areopagita – sugeria os círculos concêntricos do próprio universo. A chama ao centro do último e mais interno círculo era tomada como uma imagem do fogo interno do universo redor do qual a Terra e todos os outros planetas giravam. Ocultistas podem até não ter acreditado sempre nisso, mas sentiam jazer em algum secreto círculo interno a promessa tanto de redenção pessoal como de compreensão cósmica. Acrescia-se a essa crença tradicional numa sabedoria esotérica superior a nova promessa de libertação que vinha do romantismo alemão. O conceito de um círculo interno encantado de dimensão espacial ao desejo romântico de liberdade. A vida “do círculo era uma vida de libertação – libertando-se até das limitações corporais na esferas celestes, libertando a sociedade das amarras da tradição herdada. Ao que parece, Weishaupt foi o primeiro a utilizar o termo “círculo” para descrever um novo tipo de organização política que fazia reivindicações tanto de ordem moral quanto de ordem ideológica universal. Weishaupt descreveu o recrutamento de Iluminados no interior de lojas maçônicas em Munique como “o progresso do ⊙” na área política. Ele introduziu variantes destacadas em itálico da palavra latina (circul, circl) em seus escritos alemães para explicar a politização do movimento, que ele divulgava de “circulares” e “circulação”. Luchet descrevia o “círculo” como a principal célula da conspiração constituída por nove homens: o “comitê administrativo” para um tipo inteiramente novo de sociedade humana, no qual “cada membro de um círculo pertence igualmente a todos os outros” e “rompeu com todos laços que o ligavam à sociedade”. [Luchet, Essai, pp. 54, 67, 91; e os capítulos “Circles” e “Proofs used to Concentrate Illuminist member of a Circle”]. Os conservadores rosacruzes, que dominavam a corte prussiana após a ascensão de Frederico William 11 em 1786, criaram o seu próprio conceito rival de um Zirkel composto de nove homens. Disseminadores do ideal dos Iluministas tentaram repetidamente atacar os “círculos de corrupção” dos rosacruzes e/ou incorporá-los em seus próprios planos de “circulação” ocultista, Já vimos como Bonneville tinha por meta uma transformação global segundo o modelo dos Iluminados a ser feita através de “círculos mágicos” que irradiariam as idéias do seu “círculo social” ao centro para todo o CERCLE DU PEUPLE FRANC. Com o recesso das expectativas revolucionárias ao fim da década de 1790, Bonneville (e companheiros seus como Thomas Paine – como, antes dele, Weishaupt no exílio e Sylvain Maréchal) se apoiou na imagem de si mesmo como um Pitágoras: um intelectual exilado mas “relevante”, a construir uma nova irmandade de libertação para o futuro. Já antes da revolução, Bonneville fizera o ideal dos Iluminados remontar a Pitágoras, o qual “trouxe do Oriente o seu sistema de verdadeiros ensinamentos maçons para iluminar o Ocidente” 102 Após o fracasso de sua tentativa de “multiplicar o círculo social” 103 por meio de suas organizações do início dos anos 1790, Bonneville escreveu versos sobre “os números de Pitágoras”, 104 proclamando que “o homem é Deus” e “se tornará angélico” ao ampliar o círculo da irmandade universal: [Ó Círculo Social! Esperança cada vez mais doce, de um pacto geral, Dos povos oprimidos sua liga fraterna Jura libertação, inteira, universal.” Esperança sempre mais doce de um pacto geral, Tua irmandade de povos oprimidos Jurou libertação total, universal]. Thomas Paine, que viveu num ménage à trois com Bonneville e sua esposa de 1797 a 1802, acreditava que os druidas e os pitagóricos tinham se unido para oferecer uma alternativa ideológica ocultista ao cristianismo. Seu “Um ensaio sobre a origem da maçonaria”, escrito após seu retorno aos Estados Unidos (com a esposa de Bonneville) e imediatamente traduzido para francês por Bonneville, insistia em que a adoração natural do sol cultivada pelos druidas não havia desaparecido, mas apenas passado para dentro da maçonaria. No apogeu de sua influência em 1782, o Círculo Social começou a publicar novas obras cripto-revolucionárias do sumo-sacerdote do misticismo de Lyon Louis-Claude de Saint-Martin. Ele havia subitamente descoberto no misterioso caos da revolução a possibilidade de construir uma nova Jerusalém através de formas e números pitagoricos “Um radiante sol se desprendeu do firmamento e veio se instalar sobre Paris desde onde espalha sua luz universal”. O “novo homem” pode perceber essa luz ao contemplar os círculos concêntricos que convergem sobre um ponto dentro da chama de uma vela acesa, assim a se “reintegrar” com os elementos primais do ar, da terra e da água. À medida que o homem se encaminhar para o puro espírito, a democracia revolucionária se tornará “deocracia”. A imagem de Pitágoras como modelo heróico para todos os revolucionários foi desenvolvida em toda sua intensidade na grande obra de despedida de Sylvain Maréchal: suas monumentais, em seis volumes, Viagens de Pitágoras, de 1799. O Pitágoras de Maréchal incitava ao levante armado (“não com palavras, [mas com] arco e flecha”), invocando uma metáfora que viria a se tornar clássica na retórica revolucionária: É preciso apanhar o momento propício […] com a menor das centelhas se pode Iniciar um grande incêndio […] O ideal dos herdeiros de Pitágoras é: Compartilhar a posse de tudo, nada para você mesmo […] a igualdade da natureza […] a república dos iguais. O volume final das Viagens, ao listar supostas 3506 “leis de Pitágoras”, O volume final das Viagens, ao listar supostas 3506 “leis de Pitágoras”, Advertia em “Revolução” que […] a história de todo um povo muito frequentemente se encontra na vida de um punhado de homens. Os líderes das revoluções não eram militares, mas jornalistas-intelectuais, eram influenciados não tanto pelo racionalismo do Iluminismo francês, e sim mais pelo ocultismo do nascente romantismo alemão. A obra de Maréchal era amplamente distribuída no mundo de fala alemã; mas, profeticamente, era mais prezada no distante Império Russo, na atmosfera de vaga religiosidade e disperso reformismo sob o governo do Tzar Alexandre I. A começar em 1804, as Viagens de Maréchal passaram a aparecer em jornais governamentais oficiais em tradução russa ao ritmo de um volume por ano. Outro jornal russo publicou, paralelamente, 150 “regras de Pitágoras” tiradas do sexto volume de Maréchal. O agente russo de Maréchal era o protegido de Nicholas Novikov, um ocultista encarcerado cujo pseudônimo era “amante da verdade” e cujas reuniões secretas ao fim do século XVIII tinham dado início à kruzhkovshchina (mania de círculos da tradição radical moderna na Rússia. O sonho de uma organização pitagórica revolucionária animou o primeiro fluxo de atividade política juvenil no Império Russo depois da derrota de Napoleão. Um grupo de estudantes de Vilnius se reunia em encontros noturnos em locais de beleza natural para ouvir a sabedoria ocultista de um visitante “arquiiluminado” vindo de um círculo mais interno; e a tradição de “pitagóricos livres” se espraiou pelas regiões do Império onde havia influência polonesa. Na Ucrânia ocidental, três jovens russos formaram uma “sociedade de Pitágoras” em maio de 1818 e estabeleceram as “regras da seita pitagórica”. Propuseram os três clássicos círculos concêntricos o terceiro a representar a República de Platão. Desse grupo viria a surgir a Sociedade dos Eslavos Unidos, que objetivava realizar seu ideal helênico por todo o mundo eslavo e dera feição russa aos três graus de associação:, “irmãos, homens e boiardo”. Os primeiros radicais russos com frequência argumentavam em termos de leis de Pitágoras que concorriam entre si – alguns enfatizando as “duas leis de Pitágoras” que proibiam a propriedade privada e exigiam a posse comum; outros enfatizando a “regra” segundo a qual as armas e a amizade podiam tudo conquistar; outros insistindo na primazia da perfeição moral sobre a reforma legal: “Não criem leis para o povo; criem um povo para as leis”. Um dos primeiros grupos a alimentar a Revolta Dezembrista de 1825 foi o ainda misterioso Lâmpada Verde. Um de seus líderes escreveu para sua organização um retrato utópico de São Petersburgo trezentos anos no futuro, quando o tzarismo e a ortodoxia teriam, afinal, sido substituídos por formas pitagóricas. Há um templo circular com um altar plano e branco, feito de mármore, e um arco ao ar livre. A música é a única arte permitida. Uma fênix segurando um ramo de oliveira substituiu a decapitada águia de duas cabeças (as duas cabeças do selo imperial, que supostamente representavam o despotismo e a superstição). Alexander Puchkin, o maior poeta russo, referia-se à Lâmpada Verde como um círculo no qual a “amada igualdade se sentava à mesa redonda trajando um barrete frígio”. Embora não tão envolvido com círculos revolucionários ocultistas quanto o seu congênere polonês, Adam Mickiewicz, Puchkin compartilhava com ele o fascínio pela dedicação e sacrifício que pareciam poder ser encontrados somente em símbolo supremo do que uma canção maçônica russa da época chamava de um círculo mágico de jovens revolucionários. O “círculo” era, em suma, o símbolo supremo do que uma canção maçônica russa da época chamava de Aquelas verdades da santa lei A ti dadas pela Geometria. A maçonaria russa desenvolveu no mínimo dois conjuntos de símbolos geométricos como equivalentes às letras do alfabeto. No próximo artigo falaremos do triângulo

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