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O AMOR DE DEUS DOMINA OS OUTROS AMORES

O AMOR DE DEUS DOMINA OS OUTROS AMORES

A vontade governo todas as outras faculdades do espírito humano, Mas é governada pelo seu amor que a torna tal qual ele é. O amor de Deus é o primeiro entre todos os amores, e possui a tal ponto ou direito de dominar inseparavelmente unido e próprio a sua natureza, que se Ele não domina, deixa de existir e perece.

Ismael não herdou com Isaac, seu irmão mais novo; Esaú foi destinado ao serviço de seu irmão, nascido depois dele; José foi venerado, não só por seus irmãos, mas também para o seu pai, e até por sua mãe, na pessoa de Benjamin, como o tinha previsto nos sonhos da sua adolescência. Não é sem mistério que os últimos entre estes irmãos tiram as vantagens que pertenciam aos primeiros. O amor divino é, na verdade, o último nascido entre todos os afetos do coração humano; Ah pois segundo diz o apóstolo (1 Coríntios 15, 46), aparece primeiro o que é animal e só depois o que é espiritual. Este último nascido herda toda a autoridade, e o amor próprio, como um outro Esaú, é destinado ao seu serviço; e não só todos os outros movimentos da alma, como seus irmãos, o adoram e lhe são sujeitos, mas até o entendimento e a vontade, que lhe fazem as vezes de pai e mãe. Tudo está sujeito a este celeste amor, que quer ser sempre o rei ou nada, não podendo viver sem reinar, nem reinar senão soberanamente.

Isaac, Jacó e José, foram filhos sobrenaturais; porque suas mães, Sara, Rebeca e Raquel, sendo estéreis por natureza, os conceberam pela graça da bondade Celeste; eis a razão porque foram constituídos senhores de seus irmãos. Da mesma forma o amor sagrado é um filho milagroso, porque a vontade humana não pode concebê-lo, se o Espírito Santo o não comunica aos nossos corações; e, como sobrenatural, deve presidir e reinará sobre todos os outros afetos, inclusive o entendimento e a vontade. Mesmo que haja outros movimentos sobrenaturais na alma, como o temor, a piedade, a Fortaleza, a esperança, assim como Esaú e Benjamin foram filhos sobrenaturais de Raquel e de Rebeca, assim o divino amor é o Senhor, o herdeiro e o superior, como Filho da promessa (Gálatas 4, 28), visto que em atenção a ele é que o céu foi prometido ao homem. A salvação é revelada pela fé, prepara-se pela esperança, mas só é dada à caridade. A fé mostra o caminho da terra prometida, como uma coluna de nuvem e de fogo, isto é, claro-escura; a esperança sustentamos com a suavidade do seu maná; a caridade introduz-nos nela, como a arca da aliança que nos abre a passagem do Jordão, quer dizer do juízo final, e permanecerá no meio do povo, na pátria Celeste, prometida aos verdadeiros de israelitas, na qual nem a coluna da fé é já necessária para nos guiar, nem o maná da esperança para nos sustentar.

O santo amor reside na mais alta e elevada a região do espírito, onde faz os seus sacrifícios e holocaustos a Divindade, como Abraão fez o seu (Gênesis 22,2), e como Nosso Senhor se imolou no Calvário, para um tão elevado como ser ouvido e obedecido pelo seu povo, isto é, por todas as faculdades e afeições da alma, que Ele governa com uma incomparável doçura. O amor não tem nem forçados nem escravos, antes submete todas as coisas a sua obediência com uma força tão deliciosa, que, assim como nada é mais forte do que o amor, nada é também tão amável como a sua força.

As virtudes residem na alma para animar os seus movimentos, e a caridade, como a primeira de todas, as dirige e modera, não só porque, “em todas as coisas, o primeiro em cada espécie serve de regra de Norma a tudo o mais” (Aristóteles, física 1. 4 capítulo 14), mas também, porque Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, e quer que tudo no homem, como n’Ele próprio, seja ordenado pelo amor e para o amor.

SALES, São Francisco de, 1567-1622, tratado do amor de Deus, 1° edição – São Caetano do sul, São Paulo: Santa Cruz editora e livraria, 2016

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