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O CÂNON DA SAGRADA ESCRITURA

O CÂNON DA SAGRADA ESCRITURA

Dando continuidade ao tema sobre as fontes da Revelação, iremos fazer alguns artigos, esse e mais um sobre as Sagradas Escrituras. Os textos sagrados do cristianismo se dividem em livros do Antigo e do Novo Testamento: os primeiros foram compostos antes de Cristo; os segundos, nos tempos apostólicos. Chamam-se sagrados porque são inspirados, isto é, escritos pelos respectivos autores sob influxo divino, de tal modo que, por essa razão, se pode afirmar que Deus é seu Autor. O conjunto dos Livros inspirados chama-se cânon da Sagrada Escritura.

a) O Antigo Testamento

Existem dois cânones do Antigo Testamento: palestinense (Biblia hebraica), compilado por Esdras e Neemias (cf. 2 Mc 2,13) no século IV a.C, no tempo de Artaxerxes, e fixado definitivamente no século I de nossa era pela Escola de Jâmnia. Foi usado na Palestina e era o único reconhecido como autêntico pelos fariseus. Compreende os livros mais antigos, chamados protocanônicos (a terminologia é de Sixto de Sena, ano 1569), num total de 38 livros; mas há autores que não concordam com o número, porque consideramos doze profetas menores um único volume, ou melhor, integram Rute e Lamentações respectivamente em Juízes e em Jeremias. Outros não desdobram o livro das Crônicas nem o de Esdras.

O cânon chamado alexandrino é a tradução grega dos Setenta e contém sete livros a mais que o anterior: Sabedoria, Eclesiástico [Sirac, Baruc, Tobias, Judite, 1-2 Macabeus e alguns trechos de Daniel e Ester (livros deuterocanônicos). Esta Biblia era a usada pelos judeus da diáspora e pelos primeiros cristãos. Os Apóstolos citam tanto uma como outra (cf. Tg 1, 19; 1 Pd 1, 6-7; Hb 1,3; 11, 34ss)

Durante muito tempo vingou entre os eruditos não católicos a teoria de que o cânon alexandrino tinha ampliado o cânon hebraico, ou palestinense. O chamado concilio de Jâmnia, localidade próxima à atual Jafa, não reconheceu este acréscimo, e por isso não reconheceu como inspirados os sete livros deuterocanônicos. Esta tendência era comum entre os reformadores do século XVI.

Recentemente, porém, graças sobretudo às descobertas de Qûmran, o Cânon tradicional católico foi confirmado, porque se descobriu que aquela comunidade hebraica dispunha de uma coleção semelhante à tradução dos Setenta. Não foram, portanto, os alexandrinos que ampliaram o catálogo dos Livros Sagrados, mas a Escola de Jâmnia que o reduziu.

b) O Novo Testamento

Quanto ao Novo Testamento, alguns de seus livros são citados como Escrituras no próprio texto (cf. 2 Pd 3,16; 1 Tm 5,18 comparado com Lc 10,7). Os Padres Apostólicos e os Apologistas do século II conhecem e citam quase todos os escritos do Novo Testamento e lhes atribuem uma autoridade semelhante ou maior ao do Antigo Testamento, porque contêm o ensinamento de Cristo e dos Apóstolos. Pelos anos 181-182 Teófilo de Antioquia equipara os Evangelhos à Lei e aos profetas “porque todos são inspirados pelo mesmo Espírito de Deus”, e por primeiro qualifica como palavra de Deus algumas citações das Epistolas de São Paulo’. Na segunda metade do século II Santo Irineu aplica aos Evangelhos o termo Escritura , e São Clemente de Alexandria já fala de Antigo e Novo Testamento”.

c) A fixação do Cânon

A determinação solene e universal do Cânon da Sagrada Escritura é obra do Concilio de Florença com a Bula Cantate Domino de 04/02/1442, mas ele já estava fixado, desde tempos remotíssimos, em documentos episcopais, sinodais e também papais, que recusavam os apócrifos e davam a lista completa dos escritos canônicos. Assim, por exemplo, a Carta Pascal de Santo Atanásio (367) relaciona todos os 27 livros do Novo Testamento, ai incluída a Epistola aos Hebreus, a segunda e terceira de São João e a de São Judas Tadeu, sobre as quais havia antes alguma dúvida. Em Santo Atanásio temos um testemunho autorizado do Oriente; no Ocidente temos a lista completa dos 45 livros do Antigo Testamento e dos 27 do Novo no decreto atribuído ao Papa São Damaso (382?), lista que se repete nos Concílios de Hipona (393) e de Cartago (397) e na carta do Papa Inocêncio I a Exupério, bispo de Toulouse (405), e, bem mais tarde, no sínodo “in Trullo” de 692.

d) Canonicidade e inspiração

Como o cânon da Sagrada Escritura é o conjunto dos Livros que a Igreja reconhece como sagrados, isto é, de origem divina, o problema da canonicidade é, no fundo, análogo ao da inspiração: são canônicos os Livros Sagrados, e são sagrados os que têm a Deus por Autor, e têm a Deus por Autor os que são inspirados por Ele. O exato conceito de inspiração aparece gradativamente nos documentos da Igreja, à medida que surgem inexatidões que o Magistério se sente na obrigação de retificar. Primeiro, fala-se simplesmente de Livros que se recebem e se leem na Igreja; é o que acontece com o fragmento de Muratori (fins do século II-início do III). Mais tarde, relacionam-se os textos que se podem ler com segurança na Igreja’, que o Concilio de Laodicéia (ano 360) chama canônicos. O decreto do Papa Damaso (382?) fala de livros ou “Escrituras divinas” [scripturis divinis]. O Concilio de Hipona (ano 393), seguido pelo de Cartago (ano 397), ao redigir a lista dos Livros canônicos precisa que estes e não outros são os que estão sob o nome de “Escrituras divinas” e que podem ser lidos na Igreja’. Os Statuta Ecclesiae antiqua (séc. V-VI) usam a fórmula “Deus Autor do Antigo e do Novo Testamento” repetida na profissão de fé Leão IX (1053) e em outras posteriores. Finalmente, concílio de Florença (1442) e o de Trento (1546) denominam inspiração o modo da intervenção divina na composição dos Livros Sagrados, e o Vaticano I, em 1870, explicita o conceito com maiores detalhes.

Este texto terá continuidade.

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