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O MILENARISMO, DO APOCALIPSE DE SÃO JOÃO A SANTO IRENEU

• O MILENARISMO, DO APOCALIPSE DE SÃO JOÃO A SANTO IRENEU

• Este estudo tem por objetivo levar informações sobre o assunto milenarismo durante todos séculos da Igreja, veremos no decorrer do estudo que, até Marx se valeu do milenarismo, e vemos cada vez mais as seitas pentecostais e neo pentecostais ensinando um tipo de milenarismo errado, que poderá levar muitos ao erro e até na descrença do Evangelho.

• Para um esclarecimento sobre a posição da Igreja Católica sobre o milenarismo, nós, católicos, concordamos com Santo Agostinho e com os amilenistas. A A posição da Igreja católica tem sido historicamente “amilenista”, embora não é um costume usarmos esse termo. A Igreja rejeita a posição pré-milenista, às vezes chamada de “milenarismo” (cf. Catecismo da Igreja Católica, §676). Embora esse tema não tenha sido definido dogmaticamente, em 1940 o Santo Ofício considerou que o pré-milenismo “não pode ser ensinado com segurança”.

• Sabendo da posição da Igreja, vamos iniciar esse segundo texto analisando o período de São João até Santo Ireneu que, tendo a crença no reino messiânico derivado dos meios judaicos ao cristianismo, o apocalipse de São João (20: 1-15) que fixa de maneira definitiva a duração desse reinado de mil anos. O autor, com efeito, ver um anjo descendo do céu e aprisionar o dragão “por mil anos”. Então os mártires de todos os que se recusaram a adorar a besta e sua imagem

• Voltaram a viver e reinarão com Cristo por mil anos. Esta é a primeira ressurreição […] os outros não puderam retornar à vida antes de se completarem os mil anos. • […] Transcorridos os mil anos, Satã, solto da prisão, sairá a seduzir as nações.

• Logo acontecerão a última batalha antes da ressurreição — a de todos os mortos — e o julgamento geral. essa passagem do Apocalipse é a que conjuga messianismo e milenarismo. Ao mesmo tempo, o livro do apocalipse trazia várias outras indicações numéricas que serão usadas pelos quiliastas das épocas posteriores: os 144 mil israelitas marcados com selo (7,4); as duas testemunhas que profetizam vestidas de saco durante 1260 dias (11,3); a mulher que foge para o deserto, também durante 1260 dias (12,6); o número da Besta: 666 (13,18).

• Está demonstrado hoje que as primeiras comunidades cristãs da Ásia, das quais proveio o apocalipse, adotaram frequentemente as crenças milenaristas. • A Epístola do pseudo-Barnabé, de um autor desconhecido do início do século 2, explica:

• Deus realizou sua obra em 6 dias. isto significa que em 6 mil anos Deus levará todas as coisas a seu fim, pois para ele um dia significa mil anos, como ele próprio o certifica. […] E ele repousou do sétimo dia. Isto tem a seguinte significação: quando seu filho vier por fim ao prazo concedido aos pecadores, julgar os ímpios, transformar o sol, a lua e as estrelas, então ele repousará gloriosamente no sétimo dia. Enfim, ele diz ainda aos judeus: não são os vossos sábados que me agradam, mas aquele que fiz pelo qual, pondo fim ao universo, inaugurei o oitavo dia, isto é, um outro mundo. • * • Assim, para o pseudo-Barnabé, Cristo reinará com os justos durante mil anos — o sétimo dia. Depois disto, o oitavo dia marcará o advento de um mundo novo e definitivo.

• Encontramos o ensinamento milenarismo nos escritos de Papias, Bispo de Hierápolis no início do século 2. Sua obra, explicação das palavras do Senhor, perdeu-se. Mas fragmentos dela foram transmitidos por Eusébio de Cesaréia (340) em sua história eclesiástica, na qual se pode ler que Papias recolheu por tradição oral palavras estranhas do Salvador e de outras doutrinas mais esotéricas. Entre outras, Papias anuncia que haverá um milênio de anos após a ressurreição dos corpos, o reino de Cristo devendo existir corporalmente nesta terra, Eusébio pensa que Papias compreendeu obliquamente os relatos dos apóstolos e que não captou as coisas ditas por eles em figuras e em símbolos. mas reconhece que o Bispo fez com que um número muito grande de escritores eclesiásticos depois dele adotassem as mesmas opiniões. […] Foi o que aconteceu em relação a Irineu, é precisamente através de Irineu, para quem Papias havia sido um ouvinte de São João, que conhecemos uma evocação do milênio feita pelo bispo de hierápolis:

• Virão dias em que as vinhas crescerão, em que cada um terá 10 mil vides, e em cada vídeo 10 mil Ramos em cada Ramos 10 mil botões, e em cada botão 10 mil cachos, e em cada caixo 10 mil uvas, e cada uma prensada dar a 25 metretas [ medida equivalente a trinta litros ] de vinho. E quando um dos Santos colher um caixo, o outro caixo lhe dirá: sou o melhor, Colhe-me, e abençoa por mim o senhor! Assim também, o grão de trigo produzirá 10 mil espigas, cada espiga terá 10 mil mil grãos e cada grão dará 5 choinix [medida de peso] de farinha; acontecerá mesmo, guardadas as proporções, com os outros frutos, com as sementes e as ervas. E todos os animais, servindo-se desse alimento que receberão da terra, viverão em paz e em harmonia uns com os outros e serão plenamente submissos aos homens.

• São associados nessa antecipação otimista especulações sobre o número mil. Uma lembrança do paraíso terrestre e um eco das profecias de Isaías (11,6 e 35, 7): o lobo habitará com o cordeiro. […] No covil dos chacais, a erva se transformará em caniço e papiro.

• uma diferença sensível aparece entre o milenarismo do pseudo-Barnabé e o de Papias, ainda que ambos anunciem o reino terrestre do Messias antes da beatitude eterna. Esse reino é concedido pelo primeiro como um repouso dos Santos, enquanto Papias insiste na fecundidade fantástica da terra regenerada. Uma variação podia se produzir, nessa vertente, no sentido de uma evocação materialista do milênio. ela existiu já na época de São João e foi reativada ao longo do tempo. Com efeito, Eusébio de cesareia menciona, para criticá-la, a posição de Cerinto, apresentado como um adversário de João. Cerinto teria afirmado — mas suas palavras são relatados por alguém que o combate — que após a ressurreição haverá um reino de Cristo na terra, e que os homens novamente viverão em Jerusalém, entregando-se ao prazer e às alegrias do corpo sem pecado; […] Mil anos se passaram nas festas nupciais. Eusébio acrescenta mais adiante:

• A opinião diferente foi de que haveria um reino terrestre de Cristo; e, tendo ele próprio se entregue as coisas carnais e às volúpias do corpo, nesse reino haveria bebidas, comidas, bodas e os prazeres que elas proporcionam, festins e sacrifícios, e emulações de vítimas dadas em consagração.

• Os milenarismo de todos os tempos conhecerão essa tentação de evocar um futuro repleto de gozos terrestres.

• Do pseudo Barnabé e de Papias passamos a Justino, palestino morto como mártir em Roma Por volta do ano 165. Seu diálogo com Trifão, redigido em 148, faz dele uma das grandes testemunhos da criança no milênio das primeiras gerações cristãs. Trifão pergunta a Justino: é verdade que tu e os que pensam como tu professais que este sítio de Jerusalém será reconstruído? E que esperais que vosso povo nele se reunirá e se regozijará com Cristo […]? Justino responde: não sou tão miserável para falar diferentemente do que penso. E acrescenta: Sabemos, eu e os cristãos de ortodoxia integral que somos, que uma ressurreição da carne acontecerá durante mil anos numa Jerusalém reconstruída, endereçada e ampliada, como os profetas Ezequiel, Isaías e os outros ou afirmam. Justino estava portanto convencido de apresentar a esse respeito a doutrina Cristã autêntica. Cabe notar que a concepção milenarista de Justino — e isso vale também para Irineu — não é um lugar de espera e de felicidade. Aí eles esperam a ressurreição para os mil anos do reino terrestre de Cristo, que será seguido do julgamento geral de toda a humanidade. Na Jerusalém gloriosa do milênio, prossegue Justino,

• Não se ouvirá mas a voz do gemido nem a voz da queixa; não haverá mais crianças nascidas antes da hora, nem velhos que não cumpram seu tempo: o jovem terá cem anos e é aos 100 anos que o pecador morrerá por maldição. Serão construídas casas e quem construir as habitará; serão plantadas vinhas e quem plantar comerá seus produtos. Não sucederá que se construa e outros habitem, ou que se plantr e outros comam. Meus eleitos não hão de sofrer em vão, não hão de procriar para a maldição, serão uma raça justa e abençoada pelo Senhor, e seus filhos como eles. […] Então lobos e Cordeiros pastarão juntos, o leão e o boi comerão forragem, e a serpente terá a poeira como pão.

• Justino se refere em seguida a expressão do salmista (o dia do Senhor é como mil anos) e relaciona essa fórmula com a história do mundo que, no plano de Deus, deve recapitular a criação (6000 anos + 1000 anos= 7000 anos). O milênio de alegria corresponderá, portanto, ao repouso Divino do sétimo dia. • Depois Justino evoca ou Apocalipse:

• Entre nós [escreve] um homem chamado João, um dos apóstolos de Cristo, profetizou no Apocalipse que lhe foi revelado que os que acreditarem em nosso Cristo passarão mil anos em Jerusalém; a seguir acontecerá a ressurreição geral e eterna, para todos sem exceção, e finalmente o julgamento.

• Como se vê, essas afirmações se situam na linhagem da tradição joanina ao mesmo tempo que retomam as fórmulas de Isaías 11,7: “o leão e o boi comeram forragem”. Elas anunciam claramente um reino de mil anos, do qual a injustiça será banida e onde a humanidade regenerada continuará a procriar, mas para o bem. é somente após a ressurreição geral que os eleitos serão “como anjos”.

• DELUMEAU, Jean, mil anos de felicidade, São Paulo, Companhia das Letras, 1997.

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