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O SAQUE DE CONSTANTINOPLA

O SAQUE DE CONSTANTINOPLA

Cruzadas continuaram, de tempos em tempos, atacando os turco-seljúcidas em várias partes do seu crescente império. Há um incidente na Quarta Cruzada, de 1204, que frequentemente é citado pelos críticos como exemplo de hipocrisia, brutalidade e cobiça ocidental, assim como a tomada de Jerusalém. Foi a invasão e o saque de Constantinopla pelos cruzados, em um ataque particularmente destrutivo e brutal. (É preciso, obviamente, distinguir esse incidente do saque de Constantinopla que ocorreu em 1453 ). A versão mais difundida dessa história conta que o exército cruzado, que supostamente deveria chegar à Terra Santa, mudou de rota movido por uma profunda cobiça pelas riquezas da capital oriental e, possivelmente, também por ódio aos bizantinos cismáticos. Eles decidiram capturar e saquear a cidade e o fizeram com extrema ferocidade – demonstrando uma vez mais a sua natureza.

Assim como o resto da história “anticruzadas”, essa versão ignora certos fatos e distorce outros. Certamente, os cruzados que participaram no episódio eram culpados. Eles se permitiram desviar do seu objetivo e foram atraídos por uma série complexa de esquemas politico/militares que tiveram por fim o trágico saque. Tudo começou quando os cruzados atacaram, no Mar Adriático, um porto que pertencia à Hungria. A razão para isso era a de que os cruzados tinham uma grande divida com os venezianos, que iriam transportá-los. Apareceram menos soldados que o esperado, mas os venezianos. ainda assim, queriam cobrar pelos navios extras. Eles propuseram aos cruzados a quitação da dívida pela ajuda com a captura do porto de Zara. Os cruzados concordaram e tomaram o porto cristão de um rei que havia se voluntariado para a Cruzada. O papa Inocêncio III condenou com veemência essa aberração e incitou o exército a cumprir seu verdadeiro objetivo. Entretanto, uma grande tentação descarrilou a expedição. Um requerente ao trono bizantino, Aleixo IV Ângelo, pediu ajuda aos cruzados e aos venezianos para ganhar poder em Constantinopla. Em troca, ele prometia restaurar a união do Império Bizantino com Roma, ajudar a Cruzada e pagar o restante do dinheiro que os cruzados deviam à República de Veneza.

O plano foi apresentado ao papa Inocêncio. Ele já havia recusado a proposta quando Aleixo IV lhe fizera diretamente e a rejeitou uma vez mais. Assim fizeram também alguns líderes dos cruzados, que prosseguiram sozinhos para a Terra Santa. Para outros, no entanto, era um negócio bom demais para ser dispensado e, por isso, guerrearam contra Bizãncio, a fim de estabelecer Aleixo IV como imperador. Contudo, Aleixo IV não conseguiu cumprir sua promessa de pagamento aos aliados latinos. Por fim, os cruzados o abandonaram e ele acabou sendo morto por seus inimigos gregos e substituído por um imperador antilatino. Foi ai que a decisão de se vingar de Constantinopla foi tomada.

A raiva que gerou três dias de saques, assassinatos e destruição foi gerada, em parte, na longa história de antagonismo entre latinos e gregos, e em memória de uma atrocidade cometida pelos bizantinos apenas 22 anos antes. Nesse massacre, de 1182, os gregos atacaram a população latina de Constantinopla e mataram homens, mulheres e crianças. O clero católico foi atingido com ferocidade particular. Um diácono foi decapitado e teve sua cabeça amarrada ao rabo de um cão, para demonstrar desprezo por Roma. De acordo com o arcebispo Guilherme de Tiro, um historiador da época, o bando desenterrou e despedaçou cadáveres de católicos, invadiu hospitais para matar os doentes e vendeu milhares como escravos. Agora, os latinos estavam se vingando do mesmo modo; eles também profanaram locais e objetos sagrados, comportando se de maneira abominável. Em seguida, instituíram um império latino, que durou até a derrota para os bizantinos em 1261. O papa recebeu noticias de toda parte. Primeiramente ficou satisfeito pelo que parecia ser a reunificação das igrejas; mas logo após ouvir a história inteira se viu horrorizado e excomungou os cruzados.

Depois desse evento desastroso, cruzadas continuaram de tempos em tempos até a morte de São Luis IX, rei da França, em 1271. Ele morreu doente no norte da África, no decurso da segunda cruzada que empreendeu.’ Junto com São Luis morreu o zelo pela empresa das cruzadas. Ele foi parcialmente revivido, com dificuldades, nos séculos seguintes, quando a cristandade se defrontou com as invasões dos turco-otomanos uma ameaça muito maior do que os seljúcidas jamais foram.

As Cruzadas foram, então, um fracasso, já que não alcançaram o objetivo de libertar permanentemente a Terra Santa? Louis Bréhier faz essa pergunta, e a responde bem: Devese concluir então que as Cruzadas não tiveram importãncia histórica e que serviram apenas para desperdiçar as forças da Europa? Com frequência esquece-se de que as Cruzadas começaram como uma guerra de defesa e que, independentemente das inconveniências que delas possam ter resultado, o império Bizantino recebeu proteção efetiva contra os turcos no final do século XI. Se no século XIV o lslã retomou sua marcha, isso só ocorreu depois do entusiasmo pelas Cruzadas ter morrido.

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