top of page
Foto do escritorwww.intervencaodivina.com

Os “irmãos e irmãs” de Jesus: há algo de novo?

Os “irmãos e irmãs” de Jesus: há algo de novo?

Pe. François Rossier, S.M.

Em 1978, os autores do livro bastante conhecido chamado Maria no Novo Testamento ( Raymond BROWN, Karl P. DONFRIED, Joseph A. FITZMYER e John REUMANN (org.), Mary in the New Testament: A Collaborative Assessment by Protestant and Roman Catholic Scholars. New York – Mahwah, Paulist Press 1978 ) chegaram as quatro seguintes conclusões na identificação dos “irmãos e irmãos” de Jesus mencionados no Novo Testamento:

1 – A contínua virgindade de Maria após o nascimento de Jesus não é uma questão diretamente levantada pelo Novo Testamento

2 –Quando esta questão foi levantada na história subseqüente da igreja, foi ela que focalizou a atenção no relacionamento exato dos “irmãos” (e “irmãs”) com Jesus.

3 – Uma vez que a atenção foi focada, não pode ser dito que o Novo Testamento identifique eles sem deixar dúvida como os irmãos e irmãs de sangue e conseqüentemente como filhos de Maria.

4- A solução favorecida pelos eruditos irá, em parte, depender da autoridade que eles atribuem ao discernimento posterior da Igreja.

O subtítulo deste livro – uma avaliação colaborativa por protestantes e estudiosos católicos romanos – claramente denota uma ambição ecumênica. E, como tal, os quatro estudiosos chegaram a um acordo comum, o aspecto mais importante disto é duplo.

Em primeiro lugar, o texto bíblico permite identificar os chamados “irmãos e irmãs” como irmãos de Jesus, bem como outros tipos de parentes próximos. Assim, exegetas podem aceitar a virgindade de Maria (ou seja, depois do nascimento de Jesus), no sentido literal da palavra, ou rejeitá-la, sem ter que render sua integridade intelectual. Ambas as interpretações são reconhecidas como sendo consoante com as Escrituras. Em segundo lugar, uma vez que ambas as interpretações são escrituralmente legítimas, os leitores verão em “irmãos e irmãs” de Jesus ou irmãos de sangue ou parentes próximos, dependendo principalmente da tradição a que pertencem e pela forma como se relacionam com essa tradição.

Quase quarenta anos depois, os estudiosos mudaram de idéia a este respeito? No que diz respeito ao primeiro ponto, exegetas e teólogos continuaram a investigar o tema dos chamados “irmãos e irmãs” de Jesus. Algumas conclusões parecem ter sido alcançadas sobre este assunto, especialmente sobre possíveis referências bíblicas indiretas a múltiplos partos de Maria. Estas duas referências indiretas são encontradas em Mateus 1:25 (José “não a conheceu (Maria) até que deu à luz seu filho“) e em Lucas 2:7 (Maria “deu à luz seu filho primogênito”). Estudiosos bíblicos não afirmam mais que “até” ou “primogênito” devem ser lidos como apontando para gestações subseqüentes de Maria.

Há um consenso sobre estes pontos. Mateus 1:25 não implica que José conheceu Maria depois de Jesus ter nascido. O grego heôs, “até”, não necessariamente contrasta “antes” de “depois”. Significa que até um certo momento, algo aconteceu ou não, sem considerar o que aconteceu depois daquele momento. Por exemplo, o texto grego do Septuaginta diz, em 2 Samuel 6:23, que “E Mical, a filha de Saul, não teve filhos, até ( heôs ) o dia da sua morte”. Isso obviamente não sugere que ela teve filhos após sua morte. Mateus está interessado em sublinhar que a concepção e o nascimento de Jesus foram realizados sem a intervenção de qualquer homem.

Da mesma forma, o termo prôtotokos, “primogênito”, aplicado aos homens, é reconhecido como tendo um significado legal e cúltico único. Em Êxodo 13:2, o senhor diz: “Consagra-me todo primogênitos; todo o que abre o útero materno, entre os israelistas. Homem ou animal será meu”. Moisés, em Êxodo 13:12, acrescenta: “Apartarás para Iahweh todo ser que sair por primeiro do útero materno”. Em Israel, um primogênito foi definido como tal não porque ele foi o primeiro entre outros irmãos, mas porque ele foi o primeiro “a abrir” o ventre de sua mãe, indiferente se sua mãe teria outros filhos ou não. Em números 3:40, o senhor ordenou a Moisés: “Faze o recenseamento de todos os primogênitos homens dos israelistas, da idade de um mês para cima.” Uma criança de um mês de idade não poderia ser declarado um primogênito, porque ele tinha outros irmãos. O termo “primogênito” refere-se acima de tudo à lei, e é assim aplicável não só ao mais velho dos vários irmãos, mas também a um único filho. Lucas insiste, três vezes, em mostrar como Jesus foi apresentado no templo como a lei exigia para cada filho primogênito do sexo masculino (cf. Lucas 2:22.23.27).

Se o debate em torno do significado de “até” e “primogênito” parece fechado, este não é o caso sobre os “irmãos e irmãs” de Jesus mencionado no novo testamento. Três linhas de interpretação desenvolveram-se muito cedo nesse sentido. Um Helvidiano – nome aplicado após o tratado Contra Helvídio, escrito por volta de 383 A.D. por Jerônimo – sustentou que os “irmãos e irmãs” são verdadeiros irmãos de sangue de Jesus e filhos de José e de Maria. Jeromiano, opondo-se a Helvídio, sustentou que os “irmãos e irmãs” são primos de Jesus. O Epifaniano – nome aplicado após o Bispo do quarto século de Salamis, Epifânio, que foi um dos seus grandes divulgadores -afirmou que os “irmãos e irmãs” de Jesus são filhos de um casamento anterior de José.

Esta pluralidade de interpretações foi possibilitada por causa da ambigüidade da palavra “irmão” (e “irmã”) no hebreu antigo. Esta linguagem, como o aramaico, não distingue entre irmão de sangue e primo. Na verdade – e este ponto talvez não tenha sido levado em consideração suficientemente – a palavra hebraica ah, em seu significado literal, aplica-se a qualquer parente macho próximo da mesma geração. Uma vez que alguém pertence a este círculo – seja como irmão, meio-irmão ou primo – ele é um ah. Dentro deste círculo definido pela verdadeira irmandade familiar, nenhuma outra palavra de distinção é feita. Para o Hebreu antigo, alguém pertence à família em grupo ou não. John P. Meier, por exemplo, escreveu que, em Mateus 13:55, “a última linha de impacto” de Jesus carrega o peso total apenas se a mãe, irmãos e irmãs todos têm uma relação íntima e natural com Jesus. ” [John P. Meier, “The Brothers and Sisters of Jesus in Ecumenical Perspective.” ( Catholic Biblical Quarterly 54 (1992) 1-28, pág. 13.) Na mente de Meier, isto significa que os “irmãos e irmãs” eram filhos de Maria. No entanto, o que Jesus diz ainda carregaria o peso total se os “irmãos e irmãs” fossem meio-irmãos ou meias-irmãs dele, já que esses meio-irmãos e irmãs também pertenceriam ao círculo familiar mais próximo.

O grego antigo considera como os membros da família de uma mesma geração podem estar relacionados, e distingue entre um adelphos, “irmão”, e um anepsios, “primo”. Cnsiderando que o novo testamento foi escrito em grego antigo, os defensores da interpretação Helvidiana argumentam que onde quer que a palavra “irmão” seja usada, refere-se a um verdadeiro irmão. Eles admitem que se possamos supor que um texto hebreu ou aramaico original tenha precedido o texto grego, poderíamos aceitar que os autores do novo testamento se sentiram obrigados a traduzir a expressão hebraica ou aramaica original palavra por palavra em grego. Mas quando tal texto original ou expressão fixa não pode ser suposta, eles sustentam, precisamos reconhecer que os autores do novo testamento fazem a distinção entre “irmão” e “primo”, uma vez que estavam escrevendo em grego.

A realidade psicológica e antropológica de falar e escrever em uma língua de outra cultura é, no entanto, mais complexa. Eu era capaz de testemunhar isso quando eu estava morando em Abidjan, a maior cidade da costa do Marfim, na África Ocidental. É hoje uma cidade grande de aproximadamente 4 milhões de habitantes que cresceram em uma zona originalmente mal povoada. A escassa população original não foi capaz de absorver as ondas de imigrantes provenientes de todas as antigas colônias francesas na África Ocidental. A única língua que todas estas pessoas tinham em comum era o francês, e o francês tornou-se assim a língua nativa de Abidjan. Na maioria das línguas nativas da África Ocidental, nenhuma distinção é feita entre um “irmão” e um “primo”, enquanto que tal distinção existe em francês. No entanto, os habitantes de Abidjan, cuja língua materna é francesa, que foram criadas e educadas em francês, continuam a usar a palavra francesa para “irmão” quando falam de um “primo”. Usar a palavra francesa para “primo” trairia a forma como vislumbram as relações sociais e familiares. Quando o povo de Abidjan quer especificar que “irmão” signifique um verdadeiro irmão de sangue, eles precisam adicionar “mesmo pai, mesma mãe” (même Père, même Mère). Irmãos de sangue são um tipo particular de irmão; Eles não constituem o a referência da família. O ambiente sócio-cultural dos autores do novo testamento é o judaísmo. Assim, podemos aceitar a idéia de que, mesmo se o texto não supuser um substrato hebreu ou aramaico em seu uso de palavras gregas, os escritores iriam, naturalmente, transmitir a forma como sua própria sociedade e cultura judaica antevia as relações sociais e familiares.

Os estudiosos continuam debatendo sobre a judaicidade de Lucas, mas continua sendo reconhecido como o menos judeu e o mais grego entre os quatro evangelistas. Ele menciona os “irmãos” de Jesus apenas em Lucas 8:19-21, um texto que se baseia em Marcos 3:31-35 (ver paralelo em Mateus 12:46-50); e em atos 1:14, um texto que poderia ser considerado como dependente da tradição sinótica aonde não é feito distinção “entre Maria e os irmãos em seu retrato do Ministério de Jesus”.(Mary in the New Testament, p. 175) Em textos onde Lucas não está vinculado por qualquer substrato Hebraico nem dependente de uma tradição pré-existente, nenhuma menção é feita de algum “irmão” de Jesus: nem quando o Jesus de doze anos de idade é encontrado no templo, ou nos atos dos Apóstolos, onde Tiago, chefe da Igreja em Jerusalém, não é introduzido como o “irmão” do Senhor como Paulo o chama em Gálatas 1:19. Sendo “mais grego” do que os outros autores do novo testamento, Lucas estava possivelmente ciente de que o termo “irmão” usado de uma forma não genérica para se referir a irmãos não de sangue poderia levar seus leitores gregos a fazer confusões. Sem saber quais eram os equivalentes exatos gregos dos laços familiares de Jesus, ele poderia simplesmente ter optado por não falar dos “irmãos” de Jesus.

Não podemos fazer um argumento ex silentio, mas também podemos observar que não há menção de “primos” no novo testamento, exceto por um caso. Encontramos a palavra anepsios uma vez, em Colossenses 4:10. A maioria dos estudiosos de hoje pensam que a carta não foi escrita por Paulo, mas provavelmente por um discípulo seu da segunda geração de cristãos com um cultura grego. Por outro lado, encontramos a palavra adelphos 343 vezes no novo testamento (e adelphê, “irmã”, 26 vezes), mas nenhum outro “primo”. A única relação familiar que existia entre as pessoas de uma mesma geração no novo testamento parece ser entre irmãos. Isto é relevante, considerando que sabemos que na sociedade judaica o grupo mais familiar não se limitou ao núcleo familiar como a conhecemos na América do Norte ou na Europa? Outras palavras gregas tais como homopatôr (“meio-irmão por parte de pai”) ou homomêtôr (“meio-irmão por parte de mãe”) também não são encontradas no novo testamento. Se os autores do novo testamento quisessem descrever as relações dentro da família de Jesus tão precisamente quanto possível em grego, eles deveriam ter usado tais expressões sendo que – e Mateus e Lucas tornaram isto muito claro – Jesus não era o verdadeiro filho de José. Se os “irmãos” de Jesus fossem filhos de Maria, eles teriam sido apenas “meio-irmãos de Jesus” pela mãe, e havia uma palavra grega para isso.

Continua sendo verdade que a palavra “irmão”, em Hebraico, também significa “irmãos de sangue”. Uma vez que é o mais óbvio – mas de longe não o único – significado, não pode ser simplesmente dispensado. O uso da palavra adelphos permanece, portanto, um desafio para aqueles que defendem a virgindade de Maria Post partum. No entanto, ler esta palavra como se referindo apenas aos irmãos reais também pode levantar algumas dificuldades.

Foi dito que imaginar José e Maria tendo filhos juntos após o nascimento de Jesus iria entrar em conflito com o chamado “voto de virgindade” de Maria, como interpretado em sua pergunta ao anjo no momento da Anunciação (Lucas 1:34). Tal “voto”, ou pelo menos uma intenção de permanecer virgem, é tido como a única explicação satisfatória para a pergunta de Maria: “como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?”. Se Maria não tivesse intenção de permanecer virgem, ela não teria perguntado “como”. Ela teria naturalmente concluido que ela iria conceber o Messias depois de ter tido relações com José. Essa interpretação supõe que Maria está aqui levantando uma espécie de objeção. No entanto, também é razoável atribuir à pergunta de Maria a função de um mero artifício literário, destinado a permitir que o anjo explique sobre a concepção virginal de Jesus. E desde que o noivado parece não ser compatível com a intenção de permanecer virgem, não deveríamos ler na pergunta de Maria nada além do que sua função dentro de uma história, que é sobre a origem de Jesus e não sobre seu projeto de vida. Além disso, o fato de que tal “voto” teria sido estranho em uma menina que estava noiva, tem também de ser levado em consideração. No Israel do primeiro século, as pessoas normalmente se casavam para procriar.

Também foi perguntado por que Jesus, na Cruz, confiou Maria a um discípulo, mesmo que seja o discípulo amado, se sua mãe tivesse outros filhos? No entanto, se atribuirmos um significado simbólico ao gesto de Jesus – o discípulo é convidado a acolher Maria como uma prolongação física da presença de Jesus, por exemplo – o argumento perde seu valor. Jesus não está preocupado em encontrar um lar para sua mãe, mas com a formação de seus discípulos que são convidados a reconhecer Maria como sua própria mãe. É claro que uma interpretação simbólica não exclui uma mais literal, mas também não é necessária. A declaração “e a partir dessa hora o discípulo a recebeu em sua casa,” em João 19:27, não significa necessariamente que o discípulo ofereceu a Maria sua casa, mas também poderia significar que ele a levou literalmente “á sua própria casa” (Mary in the New Testament, p. 206), de forma simbólica. Tal interpretação simbólica não contradiz a possibilidade de Maria ter outros filhos biológicos além de Jesus.

A cena aos pés da Cruz nos deixa com outra dificuldade quando comparamos Marcos 15:40 (Mateus 27:55) com Marcos 6:3 (Mateus 13:55). Em Marcos 6:3, os “irmãos” de Jesus são nomeados; São Tiago e José, Judas e Simão. Dois dos nomes, Tiago e José, aparecem novamente em Marcos 15:40, onde se diz serem os filhos de uma Maria, uma das mulheres que assistem à crucificação. Se esta Maria é a mãe de Jesus, é estranho que ela não seja identificada como mãe de Jesus, já que Jesus é um personagem muito mais proeminente do que Tiago ou José. Foi argumentado que o Tiago mencionado em Mark 15:40 é identificado como “o mais jovem”, que não é o caso sobre o Tiago de Marcos 6:3. Eles devem ter sido, portanto, dois indivíduos distintos. Esta distinção, porém, não está presente entre Mateus 13:55 e Mateus 27:55. Assim, a fim de resolver a dificuldade, alguns daqueles que sustentam a existência de irmãos literais de Jesus têm como recurso considerar Marcos 15:40 como uma adição posterior ao texto original, e portanto não conclusivo: os nomes nesse verso, eles sustentam, não devem ser relacionados a aqueles em Marcos 6:3. Sobre a identificação dos nomes contidos nesse versículo, também poderia ser dito que Judas, o autor da epístola, se apresenta como “irmão de Tiago”. Se ele é o Tiago mencionado em Marcos 6:3, podemos deduzir que existem algumas diferenças nos laços familiares entre os “irmãos” de Jesus listado em Marcos 6:3. Caso contrário, por que Judas não teria se apresentado como “irmão” de Jesus? Isso teria lhe dado maiores credenciais. Ele deve ter sido mais intimamente próximo de Tiago do que Jesus. Será que a hipótese de que ele estava relacionado a Jesus apenas por parte de mãe, e a Tiago tanto por parte de pai como de mãe, é suficiente para explicar isso?

Em nenhuma parte do novo testamento os “irmãos” de Jesus também são identificados como “filhos de Maria” no mesmo sentido que, mais uma vez em Marcos 6:3, Jesus é identificado como “o filho de Maria” pelo povo de Nazaré. Esta fórmula provavelmente não alude à concepção virginal de Jesus, uma vez que é colocada na boca de pessoas que não crêem em Jesus. Poderia mostrar que as pessoas em Nazaré suspeitavam ou sabiam que Jesus não era filho de José, e então revelavam que consideravam Jesus como um bastardo. Por outro lado, os adeptos da hipótese de Epifânio podem dizer que o povo de Nazaré simplesmente queria distinguir Jesus dos seus “irmãos”, filhos do casamento anterior de José. O uso do artigo definido “o filho de Maria” é menos relevante. Não significa necessariamente que tal filho seja o único. O uso gramatical no novo testamento não é claro a este respeito. Por exemplo, Mateus 10:2 fala de “Tiago, o filho de Zebedeu,”, enquanto que em 26:7 ele fala de “os filhos de Zebedeu.”

Sobre as relações entre os “irmãos”, a passagem de João 7:3 em diante levanta algumas questões sobre se entre os irmãos de Jesus mencionados há filhos biológicos de Maria. Eles parecem de fato instruir Jesus sobre o que ele deveria fazer: “sai daqui e vá para a Judéia…”. Se Jesus fosse o primogênito de vários irmãos, era obviamente o filho mais velho e, como tal, teria desfrutado de um estatuto social e familiar privilegiado na sociedade israelita do primeiro século. Os irmãos mais novos não teriam o direito de comandar. O argumento não é conclusivo, uma vez que poderia ser debatido se os “irmãos” de Jesus estão dando-lhe instruções ou meras sugestões. No entanto, seria consoante a idéia de que os “irmãos” de Jesus eram mais velhos que Jesus e, portanto, não os filhos de Maria.

Ainda considerando João e focado na consonância, outro argumento a favor de Jesus ser filho único de Maria foi levantado pelo falecido Jaroslav Pelikan em uma recente publicação [Jaroslav PELIKAN, Most Generations Shall Call Me Blessed: An Essay in Aid of a Grammar of Liturgy. ” Carl e. BRAATEN & Robert W. JENSON EDS., Mary, Mother of God. Grand Rapids, Mich. – Cambridge, Reino Unido (WM. B. Eerdmans Publishing Co.) 2004, 1-18]. Neste artigo, ele reflete sobre o significado da palavra grega monogenês, aplicada a Jesus no prólogo de João (1:18). Ele argumenta que esta palavra deve ser traduzida como “unigênito”, embora “estudiosos e tradutores modernos do novo testamento” – ver, por exemplo, o NVI, a NAB, a NVI – ”procurarem reduzir seu significado de ”unigênito“ para ”único“, e, portanto, tratá-lo como um pouco mais do que outra palavra para monos. (p. 8) Então, “com base na declaração do novo testamento que ‘toda paternidade no céu e na terra’ é nomeada a partir da paternidade de Deus – ver Efésios 3:14-15 – em vez de o contrário,” (p. 9) “um corolário adequado dessa congruência e paralelismo paradoxal ” – ou seja,”entre Deus em sua divindade e Deus em seu ato “[ver Tim S. Perry, Mary for Evangelicals: Toward an Understanding of the Mother of Our Lord. Downers Grove, Ill. InterVarsity Press) 2006, página 283] – é o ensinamento que “o nascimento humano, bem como o nascimento divino foi único, de modo que ele era o filho único e unigênito de Deus, mas também o filho único e unigênito de Maria;” (p. 8) uma vez que “o que fez o filho de Deus monos,”único”, foi isto, que ele era, no sentido preciso e técnico monogenês, ‘unigênito ‘.” (p. 8).

Se o argumento do Pelikan é Bíblico, foi alcançado após a apreciação dos textos litúrgicos primitivos. Isso é, possivelmente, o lugar onde nós temos que olhar se nós quisermos chegar a alguma conclusão a respeito da identidade dos “irmãos” de Jesus mencionado no Novo Testamento. Os textos cristãos primitivos começaram a ser explorados até mesmo por estudiosos que buscam o que a Bíblia diz a este respeito. A própria Bíblia deixa a questão por ser resolvida. A presença repetida das palavras “irmãos” e “irmãs” no texto grego do novo testamento continua a ser um ponto forte para os adeptos da hipótese Helvidiana. No entanto, Considerando estes “irmãos e irmãs” como filhos de Maria também cria algumas dificuldades no texto do Novo Testamento. Nenhuma destas dificuldades é em si conclusiva, mas a sua acumulação dá alguma corroboração forte quer para a hipótese de Epifânio ou as hipótese Jerônimo. Assim, o recurso crescente aos primeiros leitores e intérpretes das Escrituras, a fim de alcançar alguns progressos a este respeito. Por esta razão, há o crescente recurso aos antigos leitores e intérpretes da Escritura com o intento de alçar algum progresso nesta questão.

As hipóteses relativas à identidade dos “irmãos e irmãs” de Jesus foram, de fato, nomeadas em homenagem a esses primeiros interpretes. Será que isto sinaliza que nenhuma solução definitiva pode ser alcançado a esse nível também? Não exatamente, uma vez que, tanto quanto os números estão em causa, apenas muito poucos entre os primeiros escritores cristãos negaram a virgindade de Maria Post partum. O próprio Helvídio é conhecido apenas pelo panfleto que Jerome escreveu contra ele. Ele tinha dois discípulos, Joviniana e Bonosus. Todos os três viveram nas últimas décadas do século IV. Depois deles, os seguidores da teoria de Helvídio praticamente se extinguiram. Anteriormente, Irineu – um judeu helenístico do segundo século convertido ao cristianismo – e, especialmente, Tertuliano – de 150/170 a cerca de 230 – são ditos terem apoiado a idéia de que os “irmãos” de Jesus eram filhos de Maria. É fortemente sustentado que Irineu considerou Tiago ou Judas como irmãos de sangue de Jesus.

No que diz respeito a Tertuliano, os estudiosos dizem que a única coisa que podemos afirmar é que Tertuliano simplesmente parece não mostrar nenhuma consciência de que a idéia da virgindade post partum de Maria tenha existido. Ele em nenhum lugar ataca essa idéia explicitamente. Portanto, “a afirmação de que a posição Helvidiana apreciou de antiguidade e apoio generalizado não pode ser sustentada.” [ver José M. Pedrozo, “The Brothers of Jesus and His Mother’s Virginity.” Tomist 63 (1999) 83-104, p. 101].

Por outro lado, começando com os apócrifo “Best-seller”, Proto evangelho de Tiago, e com Orígenes – cerca de 185-254 -, a idéia de que Maria permaneceu virgem depois do nascimento de Jesus se disseminou, a ponto de que “todo pai da igreja no século IV que abordou a questão do ‘irmão de Jesus’ confirmou a virgindade de Maria Post partum.” (ver Pedrozo, p. 92). Naturalmente, o Proto evangelho de Tiago não pode ser creditado como um testemunho histórico confiável, mas o que o texto afirma na apresentação de José como tendo já sido casado e tido filhos – os chamados “irmãos” de Jesus – antes de conhecer Maria, não foi visto pelo menos como estando em contradição com o texto bíblico. A grande maioria dos pais da igreja, apoiando tanto a hipótese de Epifânio quanto de Jerônimo, pertenciam à cultura grega e falavam grego. Alguns deles estavam ainda perto da era do novo testamento em tempo e cultura. No entanto, eles não acharam que fosse um obstáculo considerar os Adelphoi de Jesus como seus primos ou meio-irmãos. A tradição adotou esse ponto de vista – seja ele o católica, a ortodoxa, ou mesmo a reformada (com Lutero e Calvin) – até o século XIX, quando os eruditos bíblicos protestantes começaram a questionar o consenso no nome do método histórico-crítico da interpretação. Suas opiniões foram amplamente adotadas dentro das denominações protestantes, fazendo da virgindade perpétua de Maria um dos grandes medidores da dissidência.

Mesmo hoje, a maioria dos comentaristas bíblicos protestantes irá sustentar o fato de que Maria teve outros filhos após o nascimento de Jesus, mesmo aqueles que manifestaram um interesse renovado em estudar Maria. Alternadamente, a grande maioria dos estudiosos bíblicos católicos sustenta a virgindade de Maria. Curiosamente, porém, encontramos agora um número, ainda pequeno, mas crescente, de estudiosos que tentam abordar o assunto apreciando a consistência do ponto de vista da outra denominação. Alguns estudiosos católicos (Pesch, Meier, Refoulé) afirmam que uma leitura histórico-crítica do novo testamento dá muito apoio à hipótese de Helvidio. Por outro lado, alguns estudiosos protestantes (Raukamp,Pelikan, Bauckham) concluem que a hipótese de Epifânio ou de Jerônimo possui um forte apoio bíblico, e que o novo testamento não pode ser lido isolado de seus primeiros interpretes da antiga tradição cristã.

No início, perguntamos se a situação em relação à identidade dos “irmãos e irmãs” de Jesus mencionado no novo testamento tinha evoluído ao longo dos últimos trinta anos. Se olharmos para os argumentos exclusivamente baseados no texto bíblico, devemos admitir que muito pouco mudou. A mesma argumentação é usada repetidamente. As tentativas são feitas às vezes em refiná-las recorrendo às descobertas relacionadas à história dos textos. Mas desde que se tornou mais e mais difícil chegar a algum consenso nesse campo, nenhum avanço real foi feito.

Entretanto, algumas novas idéias foram introduzidas através do uso de dados extra-bíblicos fornecidos pela patrologia, liturgia, antropologia, Sociologia, etc. A liturgia tem assim oferecido perspectivas interessantes sobre a forma como a palavra monogenês, no evangelho de João, tinha sido compreendida. A sociologia e a sociolingüística ajudaram os estudiosos a compreender a complexidade das expressões dos laços familiares quando transferidos de um contexto cultural para outro.

A consciência de que o texto bíblico não pode mais, por si só, fornecer novas informações sobre a família natural de Jesus não é recente. A existência dos Apócrifos do novo testamento, como o mais popular, o Proto evangelho de Tiago, atestam isto já em meados do segundo século. Hoje, após a redescoberta das introspecções extra-bíblicas através de novos métodos de interpretação, esta consciência foi reavivada. E mesmo estudiosos de renome são vítimas de falsificadores, por exemplo, quando, em outubro de 2002, eles disseram que um antigo ossuário tinha sido desenterrado perto de Jerusalém, contendo a inscrição “Tiago/Jacó, filho de José, irmão de Jesus”, e concluíram que o ossuário muito provavelmente pertencia ao irmão de Jesus, Tiago. Então, em junho de 2003, esta inscrição foi provada como sendo falsa.

Mais promissor, é claro, é a realidade de que alguns estudiosos católicos e protestantes, movidos por preocupações ecumênicas, estão agora reconhecendo a validade da fundamentação bíblica da posição tradicional da outra denominação sobre a identidade dos “irmãos e irmãs” de Jesus mencionado no novo testamento. Eles estão se movendo em frente no caminho pavimentado pelos autores de Mary in the New Testament. Alguns teólogos protestantes que ainda sustentam que Maria provavelmente teve outros filhos após o nascimento de Jesus, estão, no entanto, prontos para aceitar a noção da virgindade perpétua de Maria. Ou seja, eles aceitam o significado teológico da virgindade perpétua sem postular para ela uma realidade física. O que é promissor em tudo isso é que Maria vai pouco a pouco deixando de ser um obstáculo, um sinal de divisão entre as principais denominações cristãs.

Tradução: Djonatan Küster

Os “irmãos e irmãs” de Jesus: há algo de novo?

Pe. François Rossier, S.M.

Em 1978, os autores do livro bastante conhecido chamado Maria no Novo Testamento ( Raymond BROWN, Karl P. DONFRIED, Joseph A. FITZMYER e John REUMANN (org.), Mary in the New Testament: A Collaborative Assessment by Protestant and Roman Catholic Scholars. New York – Mahwah, Paulist Press 1978 ) chegaram as quatro seguintes conclusões na identificação dos “irmãos e irmãos” de Jesus mencionados no Novo Testamento:

1 – A contínua virgindade de Maria após o nascimento de Jesus não é uma questão diretamente levantada pelo Novo Testamento

2 –Quando esta questão foi levantada na história subseqüente da igreja, foi ela que focalizou a atenção no relacionamento exato dos “irmãos” (e “irmãs”) com Jesus.

3 – Uma vez que a atenção foi focada, não pode ser dito que o Novo Testamento identifique eles sem deixar dúvida como os irmãos e irmãos de sangue e conseqüentemente como filhos de Maria.

4- A solução favorecida pelos eruditos irá, em parte, depender da autoridade que eles atribuem ao discernimento posterior da Igreja.

O subtítulo deste livro – uma avaliação colaborativa por protestantes e estudiosos católicos romanos – claramente denota uma ambição ecumênica. E, como tal, os quatro estudiosos chegaram a um acordo comum, o aspecto mais importante disto é duplo.

Em primeiro lugar, o texto bíblico permite identificar os chamados “irmãos e irmãs” como irmãos de Jesus, bem como outros tipos de parentes próximos. Assim, exegetas podem aceitar a virgindade de Mary (ou seja, depois do nascimento de Jesus), no sentido literal da palavra, ou rejeitá-la, sem ter que render sua integridade intelectual. Ambas as interpretações são reconhecidas como sendo consoante com as Escrituras. Em segundo lugar, uma vez que ambas as interpretações são escrituralmente legítimas, os leitores verão em “irmãos e irmãs” de Jesus ou irmãos de sangue ou parentes próximos, dependendo principalmente da tradição a que pertencem e pela forma como se relacionam com essa tradição.

Quase quarenta anos depois, os estudiosos mudaram de idéia a este respeito? No que diz respeito ao primeiro ponto, exegetas e teólogos continuaram a investigar o tema dos chamados “irmãos e irmãs” de Jesus. Algumas conclusões parecem ter sido alcançadas sobre este assunto, especialmente sobre possíveis referências bíblicas indiretas a múltiplos partos de Maria. Estas duas referências indiretas são encontradas em Mateus 1:25 (Joseph “não a conheceu (Maria) até que deu à luz seu filho“) e em Lucas 2:7 (Maria “deu à luz seu filho primogênito”). Estudiosos bíblicos não afirmam mais que “até” ou “primogênito” devem ser lidos como apontando para gestações subseqüentes de Maria.

Há um consenso sobre estes pontos. Mateus 1:25 não implica que José conheceu Maria depois de Jesus ter nascido. O grego heôs, “até”, não necessariamente contrasta “antes” de “depois”. Significa que até um certo momento, algo aconteceu ou não, sem considerar o que aconteceu depois daquele momento. Por exemplo, o texto grego do Septuaginta diz, em 2 Samuel 6:23, que “E Mical, a filha de Saul, não teve filhos, até ( heôs ) o dia da sua morte”. Isso obviamente não sugere que ela teve filhos após sua morte. Mateus está interessado em sublinhar que a concepção e o nascimento de Jesus foram realizados sem a intervenção de qualquer homem.

Da mesma forma, o termo prôtotokos, “primogênito”, aplicado aos homens, é reconhecido como tendo um significado legal e cúltico único. Em Êxodo 13:2, o senhor diz: “Consagra-me todo primogênitos; todo o que abre o útero materno, entre os israelistas. Homem ou animal será meu”. Moisés, em Êxodo 13:12, acrescenta: “Apartarás para Iahweh todo ser que sair por primeiro do útero materno”. Em Israel, um primogênito foi definido como tal não porque ele foi o primeiro entre outros irmãos, mas porque ele foi o primeiro “a abrir” o ventre de sua mãe, indiferente se sua mãe teria outros filhos ou não. Em números 3:40, o senhor ordenou a Moisés: “Faze o recenseamento de todos os primogênitos homens dos israelistas, da idade de um mês para cima.” Uma criança de um mês de idade não poderia ser declarado um primogênito, porque ele tinha outros irmãos. O termo “primogênito” refere-se acima de tudo à lei, e é assim aplicável não só ao mais velho dos vários irmãos, mas também a um único filho. Lucas insiste, três vezes, em mostrar como Jesus foi apresentado no templo como a lei exigia para cada filho primogênito do sexo masculino (cf. Lucas 2:22.23.27).

Se o debate em torno do significado de “até” e “primogênito” parece fechado, este não é o caso sobre os “irmãos e irmãs” de Jesus mencionado no novo testamento. Três linhas de interpretação desenvolveram-se muito cedo nesse sentido. Um Helvidiano – nome aplicado após o tratado Contra Helvídio, escrito por volta de 383 A.D. por Jerônimo – sustentou que os “irmãos e irmãs” são verdadeiros irmãos de sangue de Jesus e filhos de José e de Maria. Jeromiano, opondo-se a Helvídio, sustentou que os “irmãos e irmãs” são primos de Jesus. O Epifaniano – nome aplicado após o Bispo do quarto século de Salamis, Epifânio, que foi um dos seus grandes divulgadores -afirmou que os “irmãos e irmãs” de Jesus são filhos de um casamento anterior de José.

Esta pluralidade de interpretações foi possibilitada por causa da ambigüidade da palavra “irmão” (e “irmã”) no hebreu antigo. Esta linguagem, como o aramaico, não distingue entre irmão de sangue e primo. Na verdade – e este ponto talvez não tenha sido levado em consideração suficientemente – a palavra hebraica ah, em seu significado literal, aplica-se a qualquer parente macho próximo da mesma geração. Uma vez que alguém pertence a este círculo – seja como irmão, meio-irmão ou primo – ele é um ah. Dentro deste círculo definido pela verdadeira irmandade familiar, nenhuma outra palavra de distinção é feita. Para o Hebreu antigo, alguém pertence à família em grupo ou não. John P. Meier, por exemplo, escreveu que, em Mateus 13:55, “a última linha de impacto” de Jesus carrega o peso total apenas se a mãe, irmãos e irmãs todos têm uma relação íntima e natural com Jesus. ” [John P. Meier, “The Brothers and Sisters of Jesus in Ecumenical Perspective.” ( Catholic Biblical Quarterly 54 (1992) 1-28, pág. 13.) Na mente de Meier, isto significa que os “irmãos e irmãs” eram filhos de Maria. No entanto, o que Jesus diz ainda carregaria o peso total se os “irmãos e irmãs” fossem meio-irmãos ou meias-irmãs dele, já que esses meio-irmãos e irmãs também pertenceriam ao círculo familiar mais próximo.

O grego antigo considera como os membros da família de uma mesma geração podem estar relacionados, e distingue entre um adelphos, “irmão”, e um anepsios, “primo”. Cnsiderando que o novo testamento foi escrito em grego antigo, os defensores da interpretação Helvidiana argumentam que onde quer que a palavra “irmão” seja usada, refere-se a um verdadeiro irmão. Eles admitem que se possamos supor que um texto hebreu ou aramaico original tenha precedido o texto grego, poderíamos aceitar que os autores do novo testamento se sentiram obrigados a traduzir a expressão hebraica ou aramaica original palavra por palavra em grego. Mas quando tal texto original ou expressão fixa não pode ser suposta, eles sustentam, precisamos reconhecer que os autores do novo testamento fazem a distinção entre “irmão” e “primo”, uma vez que estavam escrevendo em grego.

A realidade psicológica e antropológica de falar e escrever em uma língua de outra cultura é, no entanto, mais complexa. Eu era capaz de testemunhar isso quando eu estava morando em Abidjan, a maior cidade da costa do Marfim, na África Ocidental. É hoje uma cidade grande de aproximadamente 4 milhões de habitantes que cresceram em uma zona originalmente mal povoada. A escassa população original não foi capaz de absorver as ondas de imigrantes provenientes de todas as antigas colônias francesas na África Ocidental. A única língua que todas estas pessoas tinham em comum era o francês, e o francês tornou-se assim a língua nativa de Abidjan. Na maioria das línguas nativas da África Ocidental, nenhuma distinção é feita entre um “irmão” e um “primo”, enquanto que tal distinção existe em francês. No entanto, os habitantes de Abidjan, cuja língua materna é francesa, que foram criadas e educadas em francês, continuam a usar a palavra francesa para “irmão” quando falam de um “primo”. Usar a palavra francesa para “primo” trairia a forma como vislumbram as relações sociais e familiares. Quando o povo de Abidjan quer especificar que “irmão” signifique um verdadeiro irmão de sangue, eles precisam adicionar “mesmo pai, mesma mãe” (même Père, même Mère). Irmãos de sangue são um tipo particular de irmão; Eles não constituem o a referência da família. O ambiente sócio-cultural dos autores do novo testamento é o judaísmo. Assim, podemos aceitar a idéia de que, mesmo se o texto não supuser um substrato hebreu ou aramaico em seu uso de palavras gregas, os escritores iriam, naturalmente, transmitir a forma como sua própria sociedade e cultura judaica antevia as relações sociais e familiares.

Os estudiosos continuam debatendo sobre a judaicidade de Lucas, mas continua sendo reconhecido como o menos judeu e o mais grego entre os quatro evangelistas. Ele menciona os “irmãos” de Jesus apenas em Lucas 8:19-21, um texto que se baseia em Marcos 3:31-35 (ver paralelo em Mateus 12:46-50); e em atos 1:14, um texto que poderia ser considerado como dependente da tradição sinótica aonde não é feito distinção “entre Maria e os irmãos em seu retrato do Ministério de Jesus”.(Mary in the New Testament, p. 175) Em textos onde Lucas não está vinculado por qualquer substrato Hebraico nem dependente de uma tradição pré-existente, nenhuma menção é feita de algum “irmão” de Jesus: nem quando o Jesus de doze anos de idade é encontrado no templo, ou nos atos dos Apóstolos, onde Tiago, chefe da Igreja em Jerusalém, não é introduzido como o “irmão” do Senhor como Paulo o chama em Gálatas 1:19. Sendo “mais grego” do que os outros autores do novo testamento, Lucas estava possivelmente ciente de que o termo “irmão” usado de uma forma não genérica para se referir a irmãos não de sangue poderia levar seus leitores gregos a fazer confusões. Sem saber quais eram os equivalentes exatos gregos dos laços familiares de Jesus, ele poderia simplesmente ter optado por não falar dos “irmãos” de Jesus.

Não podemos fazer um argumento ex silentio, mas também podemos observar que não há menção de “primos” no novo testamento, exceto por um caso. Encontramos a palavra anepsios uma vez, em Colossenses 4:10. A maioria dos estudiosos de hoje pensam que a carta não foi escrita por Paulo, mas provavelmente por um discípulo seu da segunda geração de cristãos com um cultura grego. Por outro lado, encontramos a palavra adelphos 343 vezes no novo testamento (e adelphê, “irmã”, 26 vezes), mas nenhum outro “primo”. A única relação familiar que existia entre as pessoas de uma mesma geração no novo testamento parece ser entre irmãos. Isto é relevante, considerando que sabemos que na sociedade judaica o grupo mais familiar não se limitou ao núcleo familiar como a conhecemos na América do Norte ou na Europa? Outras palavras gregas tais como homopatôr (“meio-irmão por parte de pai”) ou homomêtôr (“meio-irmão por parte de mãe”) também não são encontradas no novo testamento. Se os autores do novo testamento quisessem descrever as relações dentro da família de Jesus tão precisamente quanto possível em grego, eles deveriam ter usado tais expressões sendo que – e Mateus e Lucas tornaram isto muito claro – Jesus não era o verdadeiro filho de José. Se os “irmãos” de Jesus fossem filhos de Maria, eles teriam sido apenas “meio-irmãos de Jesus” pela mãe, e havia uma palavra grega para isso.

Continua sendo verdade que a palavra “irmão”, em Hebraico, também significa “irmãos de sangue”. Uma vez que é o mais óbvio – mas de longe não o único – significado, não pode ser simplesmente dispensado. O uso da palavra adelphos permanece, portanto, um desafio para aqueles que defendem a virgindade de Maria Post partum. No entanto, ler esta palavra como se referindo apenas aos irmãos reais também pode levantar algumas dificuldades.

Foi dito que imaginar José e Maria tendo filhos juntos após o nascimento de Jesus iria entrar em conflito com o chamado “voto de virgindade” de Maria, como interpretado em sua pergunta ao anjo no momento da Anunciação (Lucas 1:34). Tal “voto”, ou pelo menos uma intenção de permanecer virgem, é tido como a única explicação satisfatória para a pergunta de Maria: “como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?”. Se Maria não tivesse intenção de permanecer virgem, ela não teria perguntado “como”. Ela teria naturalmente concluido que ela iria conceber o Messias depois de ter tido relações com José. Essa interpretação supõe que Maria está aqui levantando uma espécie de objeção. No entanto, também é razoável atribuir à pergunta de Maria a função de um mero artifício literário, destinado a permitir que o anjo explique sobre a concepção virginal de Jesus. E desde que o noivado parece não ser compatível com a intenção de permanecer virgem, não deveríamos ler na pergunta de Maria nada além do que sua função dentro de uma história, que é sobre a origem de Jesus e não sobre seu projeto de vida. Além disso, o fato de que tal “voto” teria sido estranho em uma menina que estava noiva, tem também de ser levado em consideração. No Israel do primeiro século, as pessoas normalmente se casavam para procriar.

Também foi perguntado por que Jesus, na Cruz, confiou Maria a um discípulo, mesmo que seja o discípulo amado, se sua mãe tivesse outros filhos? No entanto, se atribuirmos um significado simbólico ao gesto de Jesus – o discípulo é convidado a acolher Maria como uma prolongação física da presença de Jesus, por exemplo – o argumento perde seu valor. Jesus não está preocupado em encontrar um lar para sua mãe, mas com a formação de seus discípulos que são convidados a reconhecer Maria como sua própria mãe. É claro que uma interpretação simbólica não exclui uma mais literal, mas também não é necessária. A declaração “e a partir dessa hora o discípulo a recebeu em sua casa,” em João 19:27, não significa necessariamente que o discípulo ofereceu a Maria sua casa, mas também poderia significar que ele a levou literalmente “á sua própria casa” (Mary in the New Testament, p. 206), de forma simbólica. Tal interpretação simbólica não contradiz a possibilidade de Maria ter outros filhos biológicos além de Jesus.

A cena aos pés da Cruz nos deixa com outra dificuldade quando comparamos Marcos 15:40 (Mateus 27:55) com Marcos 6:3 (Mateus 13:55). Em Marcos 6:3, os “irmãos” de Jesus são nomeados; São Tiago e José, Judas e Simão. Dois dos nomes, Tiago e José, aparecem novamente em Marcos 15:40, onde se diz serem os filhos de uma Maria, uma das mulheres que assistem à crucificação. Se esta Maria é a mãe de Jesus, é estranho que ela não seja identificada como mãe de Jesus, já que Jesus é um personagem muito mais proeminente do que Tiago ou José. Foi argumentado que o Tiago mencionado em Mark 15:40 é identificado como “o mais jovem”, que não é o caso sobre o Tiago de Marcos 6:3. Eles devem ter sido, portanto, dois indivíduos distintos. Esta distinção, porém, não está presente entre Mateus 13:55 e Mateus 27:55. Assim, a fim de resolver a dificuldade, alguns daqueles que sustentam a existência de irmãos literais de Jesus têm como recurso considerar Marcos 15:40 como uma adição posterior ao texto original, e portanto não conclusivo: os nomes nesse verso, eles sustentam, não devem ser relacionados a aqueles em Marcos 6:3. Sobre a identificação dos nomes contidos nesse versículo, também poderia ser dito que Judas, o autor da epístola, se apresenta como “irmão de Tiago”. Se ele é o Tiago mencionado em Marcos 6:3, podemos deduzir que existem algumas diferenças nos laços familiares entre os “irmãos” de Jesus listado em Marcos 6:3. Caso contrário, por que Judas não teria se apresentado como “irmão” de Jesus? Isso teria lhe dado maiores credenciais. Ele deve ter sido mais intimamente próximo de Tiago do que Jesus. Será que a hipótese de que ele estava relacionado a Jesus apenas por parte de mãe, e a Tiago tanto por parte de pai como de mãe, é suficiente para explicar isso?

Em nenhuma parte do novo testamento os “irmãos” de Jesus também são identificados como “filhos de Maria” no mesmo sentido que, mais uma vez em Marcos 6:3, Jesus é identificado como “o filho de Maria” pelo povo de Nazaré. Esta fórmula provavelmente não alude à concepção virginal de Jesus, uma vez que é colocada na boca de pessoas que não crêem em Jesus. Poderia mostrar que as pessoas em Nazaré suspeitavam ou sabiam que Jesus não era filho de José, e então revelavam que consideravam Jesus como um bastardo. Por outro lado, os adeptos da hipótese de Epifânio podem dizer que o povo de Nazaré simplesmente queria distinguir Jesus dos seus “irmãos”, filhos do casamento anterior de José. O uso do artigo definido “o filho de Maria” é menos relevante. Não significa necessariamente que tal filho seja o único. O uso gramatical no novo testamento não é claro a este respeito. Por exemplo, Mateus 10:2 fala de “Tiago, o filho de Zebedeu,”, enquanto que em 26:7 ele fala de “os filhos de Zebedeu.”

Sobre as relações entre os “irmãos”, a passagem de João 7:3 em diante levanta algumas questões sobre se entre os irmãos de Jesus mencionados há filhos biológicos de Maria. Eles parecem de fato instruir Jesus sobre o que ele deveria fazer: “sai daqui e vá para a Judéia…”. Se Jesus fosse o primogênito de vários irmãos, era obviamente o filho mais velho e, como tal, teria desfrutado de um estatuto social e familiar privilegiado na sociedade israelita do primeiro século. Os irmãos mais novos não teriam o direito de comandar. O argumento não é conclusivo, uma vez que poderia ser debatido se os “irmãos” de Jesus estão dando-lhe instruções ou meras sugestões. No entanto, seria consoante a idéia de que os “irmãos” de Jesus eram mais velhos que Jesus e, portanto, não os filhos de Maria.

Ainda considerando João e focado na consonância, outro argumento a favor de Jesus ser filho único de Maria foi levantado pelo falecido Jaroslav Pelikan em uma recente publicação [Jaroslav PELIKAN, Most Generations Shall Call Me Blessed: An Essay in Aid of a Grammar of Liturgy. ” Carl e. BRAATEN & Robert W. JENSON EDS., Mary, Mother of God. Grand Rapids, Mich. – Cambridge, Reino Unido (WM. B. Eerdmans Publishing Co.) 2004, 1-18]. Neste artigo, ele reflete sobre o significado da palavra grega monogenês, aplicada a Jesus no prólogo de João (1:18). Ele argumenta que esta palavra deve ser traduzida como “unigênito”, embora “estudiosos e tradutores modernos do novo testamento” – ver, por exemplo, o NVI, a NAB, a NVI – ”procurarem reduzir seu significado de ”unigênito“ para ”único“, e, portanto, tratá-lo como um pouco mais do que outra palavra para monos. (p. 8) Então, “com base na declaração do novo testamento que ‘toda paternidade no céu e na terra’ é nomeada a partir da paternidade de Deus – ver Efésios 3:14-15 – em vez de o contrário,” (p. 9) “um corolário adequado dessa congruência e paralelismo paradoxal ” – ou seja,”entre Deus em sua divindade e Deus em seu ato “[ver Tim S. Perry, Mary for Evangelicals: Toward an Understanding of the Mother of Our Lord. Downers Grove, Ill. InterVarsity Press) 2006, página 283] – é o ensinamento que “o nascimento humano, bem como o nascimento divino foi único, de modo que ele era o filho único e unigênito de Deus, mas também o filho único e unigênito de Maria;” (p. 8) uma vez que “o que fez o filho de Deus monos,”único”, foi isto, que ele era, no sentido preciso e técnico monogenês, ‘unigênito ‘.” (p. 8).

Se o argumento do Pelikan é Bíblico, foi alcançado após a apreciação dos textos litúrgicos primitivos. Isso é, possivelmente, o lugar onde nós temos que olhar se nós quisermos chegar a alguma conclusão a respeito da identidade dos “irmãos” de Jesus mencionado no Novo Testamento. Os textos cristãos primitivos começaram a ser explorados até mesmo por estudiosos que buscam o que a Bíblia diz a este respeito. A própria Bíblia deixa a questão por ser resolvida. A presença repetida das palavras “irmãos” e “irmãs” no texto grego do novo testamento continua a ser um ponto forte para os adeptos da hipótese Helvidiana. No entanto, Considerando estes “irmãos e irmãs” como filhos de Maria também cria algumas dificuldades no texto do Novo Testamento. Nenhuma destas dificuldades é em si conclusiva, mas a sua acumulação dá alguma corroboração forte quer para a hipótese de Epifânio ou as hipótese Jerônimo. Assim, o recurso crescente aos primeiros leitores e intérpretes das Escrituras, a fim de alcançar alguns progressos a este respeito. Por esta razão, há o crescente recurso aos antigos leitores e intérpretes da Escritura com o intento de alçar algum progresso nesta questão.

As hipóteses relativas à identidade dos “irmãos e irmãs” de Jesus foram, de fato, nomeadas em homenagem a esses primeiros interpretes. Será que isto sinaliza que nenhuma solução definitiva pode ser alcançado a esse nível também? Não exatamente, uma vez que, tanto quanto os números estão em causa, apenas muito poucos entre os primeiros escritores cristãos negaram a virgindade de Maria Post partum. O próprio Helvídio é conhecido apenas pelo panfleto que Jerome escreveu contra ele. Ele tinha dois discípulos, Joviniana e Bonosus. Todos os três viveram nas últimas décadas do século IV. Depois deles, os seguidores da teoria de Helvídio praticamente se extinguiram. Anteriormente, Irineu – um judeu helenístico do segundo século convertido ao cristianismo – e, especialmente, Tertuliano – de 150/170 a cerca de 230 – são ditos terem apoiado a idéia de que os “irmãos” de Jesus eram filhos de Maria. É fortemente sustentado que Irineu considerou Tiago ou Judas como irmãos de sangue de Jesus.

No que diz respeito a Tertuliano, os estudiosos dizem que a única coisa que podemos afirmar é que Tertuliano simplesmente parece não mostrar nenhuma consciência de que a idéia da virgindade post partum de Maria tenha existido. Ele em nenhum lugar ataca essa idéia explicitamente. Portanto, “a afirmação de que a posição Helvidiana apreciou de antiguidade e apoio generalizado não pode ser sustentada.” [ver José M. Pedrozo, “The Brothers of Jesus and His Mother’s Virginity.” Tomist 63 (1999) 83-104, p. 101].

Por outro lado, começando com os apócrifo “Best-seller”, Proto evangelho de Tiago, e com Orígenes – cerca de 185-254 -, a idéia de que Maria permaneceu virgem depois do nascimento de Jesus se disseminou, a ponto de que “todo pai da igreja no século IV que abordou a questão do ‘irmão de Jesus’ confirmou a virgindade de Maria Post partum.” (ver Pedrozo, p. 92). Naturalmente, o Proto evangelho de Tiago não pode ser creditado como um testemunho histórico confiável, mas o que o texto afirma na apresentação de José como tendo já sido casado e tido filhos – os chamados “irmãos” de Jesus – antes de conhecer Maria, não foi visto pelo menos como estando em contradição com o texto bíblico. A grande maioria dos pais da igreja, apoiando tanto a hipótese de Epifânio quanto de Jerônimo, pertenciam à cultura grega e falavam grego. Alguns deles estavam ainda perto da era do novo testamento em tempo e cultura. No entanto, eles não acharam que fosse um obstáculo considerar os Adelphoi de Jesus como seus primos ou meio-irmãos. A tradição adotou esse ponto de vista – seja ele o católica, a ortodoxa, ou mesmo a reformada (com Lutero e Calvin) – até o século XIX, quando os eruditos bíblicos protestantes começaram a questionar o consenso no nome do método histórico-crítico da interpretação. Suas opiniões foram amplamente adotadas dentro das denominações protestantes, fazendo da virgindade perpétua de Maria um dos grandes medidores da dissidência.

Mesmo hoje, a maioria dos comentaristas bíblicos protestantes irá sustentar o fato de que Maria teve outros filhos após o nascimento de Jesus, mesmo aqueles que manifestaram um interesse renovado em estudar Maria. Alternadamente, a grande maioria dos estudiosos bíblicos católicos sustenta a virgindade de Maria. Curiosamente, porém, encontramos agora um número, ainda pequeno, mas crescente, de estudiosos que tentam abordar o assunto apreciando a consistência do ponto de vista da outra denominação. Alguns estudiosos católicos (Pesch, Meier, Refoulé) afirmam que uma leitura histórico-crítica do novo testamento dá muito apoio à hipótese de Helvidio. Por outro lado, alguns estudiosos protestantes (Raukamp,Pelikan, Bauckham) concluem que a hipótese de Epifânio ou de Jerônimo possui um forte apoio bíblico, e que o novo testamento não pode ser lido isolado de seus primeiros interpretes da antiga tradição cristã.

No início, perguntamos se a situação em relação à identidade dos “irmãos e irmãs” de Jesus mencionado no novo testamento tinha evoluído ao longo dos últimos trinta anos. Se olharmos para os argumentos exclusivamente baseados no texto bíblico, devemos admitir que muito pouco mudou. A mesma argumentação é usada repetidamente. As tentativas são feitas às vezes em refiná-las recorrendo às descobertas relacionadas à história dos textos. Mas desde que se tornou mais e mais difícil chegar a algum consenso nesse campo, nenhum avanço real foi feito.

Entretanto, algumas novas idéias foram introduzidas através do uso de dados extra-bíblicos fornecidos pela patrologia, liturgia, antropologia, Sociologia, etc. A liturgia tem assim oferecido perspectivas interessantes sobre a forma como a palavra monogenês, no evangelho de João, tinha sido compreendida. A sociologia e a sociolingüística ajudaram os estudiosos a compreender a complexidade das expressões dos laços familiares quando transferidos de um contexto cultural para outro.

A consciência de que o texto bíblico não pode mais, por si só, fornecer novas informações sobre a família natural de Jesus não é recente. A existência dos Apócrifos do novo testamento, como o mais popular, o Proto evangelho de Tiago, atestam isto já em meados do segundo século. Hoje, após a redescoberta das introspecções extra-bíblicas através de novos métodos de interpretação, esta consciência foi reavivada. E mesmo estudiosos de renome são vítimas de falsificadores, por exemplo, quando, em outubro de 2002, eles disseram que um antigo ossuário tinha sido desenterrado perto de Jerusalém, contendo a inscrição “Tiago/Jacó, filho de José, irmão de Jesus”, e concluíram que o ossuário muito provavelmente pertencia ao irmão de Jesus, Tiago. Então, em junho de 2003, esta inscrição foi provada como sendo falsa.

Mais promissor, é claro, é a realidade de que alguns estudiosos católicos e protestantes, movidos por preocupações ecumênicas, estão agora reconhecendo a validade da fundamentação bíblica da posição tradicional da outra denominação sobre a identidade dos “irmãos e irmãs” de Jesus mencionado no novo testamento. Eles estão se movendo em frente no caminho pavimentado pelos autores de Mary in the New Testament. Alguns teólogos protestantes que ainda sustentam que Maria provavelmente teve outros filhos após o nascimento de Jesus, estão, no entanto, prontos para aceitar a noção da virgindade perpétua de Maria. Ou seja, eles aceitam o significado teológico da virgindade perpétua sem postular para ela uma realidade física. O que é promissor em tudo isso é que Maria vai pouco a pouco deixando de ser um obstáculo, um sinal de divisão entre as principais denominações cristãs.

Tradução: Djonatan Küster

2 visualizações0 comentário

Posts Relacionados

Ver tudo

コメント


bottom of page
ConveyThis